sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

VILA VIÇOSA E AS INVASÕES FRANCESAS


Ontem falei sobre o Castelo e alguns episódios históricos que aqui aconteceram, deixando propositadamente para hoje as informações sobre as Invasões Francesas, no início do século XIX.
Ao longo da História, o mês de Junho foi particularmente fatídico para as gentes de Vila Viçosa. Também durante as Invasões Francesas a situação foi dramática…

No dia 19 de Junho 1808 e na sequência do saque verificado nas igrejas de Vila Viçosa e de maltratos infligidos a um menino junto da “Estacada” (perto do Castelo) pelos soldados franceses, o povo calipolense insurgiu-se e atacou a guarnição de Napoleão que se encontrava no Castelo. O Franceses tinham levado, só do Convento dos Agostinhos, 28 arrobas e 10 arratéis de prata.

Na sequência desta revolta e por ter tido conhecimento dos factos através de um soldado francês que conseguiu fugir, o General D’Avril, comandante das tropas francesas que se encontravam em Estremoz, marcha sobre Vila Viçosa, para esmagar a rebelião, com 350 homens de infantaria, 100 cavalos e duas peças de artilharia.

Infante de Lacerda foi o herói calipolense por esses dias!

Este sargento-mor reformado levou para a Porta do Nós 38 espingardeiros, que se esconderam nos muros e nos telhados da Ilha (a norte do Paço Ducal), com ordem para dispararem sobre os soldados franceses do General D’Avril, que tinha vindo de Estremoz para ajudar a guarnição francesa do Castelo.
Trinta e seis soldados franceses acabaram por perecer nas escaramuças.
Contudo, devido ao número desigual de forças entre franceses e o povo calipolense, a insurreição foi controlada pelos invasores, que entraram pela Porta dos Nós (a antiga Porta da Vila).

Infante de Lacerda não teve outra opção senão fugir para Olivença, onde chegou de madrugada do dia 21, dando conta ao coronel espanhol D. Frederico Moretti y Cascone da insurreição de Vila Viçosa. A maior parte dos revoltosos calipolenses teve fugir para a zona do antigo Convento de São Francisco Velho, no caminho de São Romão.
Durante a ocupação de Vila Viçosa pelas tropas francesas de Napoleão, o Paço dos Sousas da Câmara (na imagem) serviu de quartel-general do estado-maior do General D’Avril e sofreu, nesse período, danos no vestíbulo e escadaria, provocados pelos hussardos a cavalo.

Foi Infante de Lacerda que capitaneou a defesa de Vila Viçosa. Liderou a insurreição de Vila Viçosa contra os Franceses, devendo-se-lhe a organização das forças militares e Juntas Administrativas do Alentejo para se resistir à ocupação estrangeira, tarefa que executou com lealdade e desinteresse.

Em 1809, o Paço Ducal serviu como Hospital de sangue dos feridos da Batalha de Talavera de La Reina (que colocou frente a frente os exércitos aliados do Reino Unido e de Espanha e os Franceses). Morreram em Vila Viçosa muitos ingleses, que tiveram sepultura na várzea do Morgadinho e nuns olivais dos frades agostinhos junto da Horta do Reguengo e na zona sul do Carrascal, que foi o cemitério ordinário dos protestantes ingleses.

Diz o Padre Espanca que Vila Viçosa padecia muito com o alojamento das tropas que por aqui passavam, ou que aqui invernavam. Não respeitavam as propriedades dos locais e seduziam muitas donzelas, que levavam consigo nas retiradas.

FONTE:
ESPANCA, Padre Joaquim José da Rocha - Memórias de Vila Viçosa - caderno 5, Câmara Municipal de Vila Viçosa, Vila Viçosa, 1983 – 1992.






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