segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

A "Avenida das Oficinas" de Vila Viçosa

Em Janeiro de 1928, era lançado, em Vila Viçosa, o 1º número da Revista Portuguesa, uma publicação trimestral, dirigida por Lopes Manso e José Emídio Amaro (um distinto Calipolense, que fará parte da próxima edição do livro sobre os Notáveis).
Este primeiro número contou com a colaboração da Poetisa Florbela Espanca, cuja obra só viria a merecer reconhecimento público depois da sua morte, em 1930.
Tratava-se de uma edição de abrangência nacional, tendo como foco privilegiado o Alentejo, do ponto de vista social, económico e cultural.

Nesta primeira edição, surge um curioso artigo sobre a exploração dos mármores em Vila Viçosa da autoria de Bonfilho Faria (também ele um Notável Calipolense), canteiro de profissão, escultor e Diretor técnico da Sociedade de Mármores de Vila Viçosa.

Esta empresa, cuja oficina estava situada no Campo da Restauração, na designada “Avenida das Oficinas”, (que surge na imagem), ganhou dois primeiros prémios nas Exposições Industriais de Estremoz em 1926 e 1927. A sua fundação teve como objetivo promover a indústria dos mármores “finíssimos” de Vila Viçosa e que, na altura, já rivalizavam com os melhores mármores de Itália.
No referido artigo, defende o autor que o Alentejo deste tempo, para além de ser uma província essencialmente agrícola, cuja produção cerealífera constituía a mais importante parcela para o abastecimento do país, possuía outras “virtudes”.

Preconizava já em 1928 que a riqueza extraordinária dos calcários em “jazigos inesgotáveis” (?), desde Estremoz até Vila Viçosa, viria a constituir um enorme motor de desenvolvimento económico no futuro. Salientava que era precisamente neste último concelho que se encontravam os “mais preciosos filões”.
Bonfilho Faria escreveu que três elementos valiosíssimos reuniram-se aqui por “milagre da Natureza” e contribuíram maravilhosamente para a riqueza extraordinária dos mármores calipolenses: “a abundância, a estrutura translúcida e cristalina, de beleza incomparável e a variedade das suas cores e tons”. Defendia que os jazigos desta zona seriam dos mais numerosos e extensos do Mundo.
Só no concelho de Vila viçosa, onde existiam as espécies mais fina e onde estava, à época, concentrada grande parte da exploração, “havia mármores para abastecer todo o país e satisfazer, durante muitos séculos, as exigências de exportação, por muito intensificada que esta seja”.
Explorado desde os tempos remotos da antiga Lusitânia, o mármore alentejano correu o Mundo, tendo sido levado no tempo dos Descobrimentos, segundo Bonfilho Faria, para a Índia, África e Brasil.

Nas Herdades da Vigária, Coutos e Lagoa e noutras propriedades adjacentes, numa extensão de muitos quilómetros, os jazigos sucediam-se em enormes proporções, à “flor da terra” e constituíam uma “toalha marmórea colossal”, que maravilhava e surpreendia todos os técnicos estrangeiros que a contemplavam.
E se existia em quantidade, o mármore de Vila Viçosa era também destacado pela sua excelente qualidade. Não tinham rival em nenhum outro lugar, pela “aliança privilegiada da abundância de jazigos com a extraordinária variedade e grande percentagem de tipos finíssimos”. Nas pedreiras de Vila Viçosa dominava o rosa creme (que era o mais procurado nos mercados), mas também existiam o branco neve, o rosa vivo e o branco raiado.

Não devemos esquecer que este artigo foi escrito antes da grande industrialização deste sector, que irá ser iniciada a partir de 1950. Nos nossos dias, assistimos a uma estagnação desta atividade, provavelmente derivada da crise global e de novos mercados produtores em expansão.
Terá havido um erro de análise de Bonfilho Faria quando refere que os filões existentes em Vila Viçosa seriam “inesgotáveis”? Será que ainda existe mármore de qualidade no anticlinal? O que poderá ser feito para dinamizar este sector? Apostar em novos produtos? Em novos mercados?
São questões de difícil resposta, tendo em conta as condicionantes e as dificuldades relativas ao escoamento de produtos e de subprodutos.

Em menos de um século, a pujança anunciada sobre a importância e a qualidade dos mármores desta região desvaneceu-se… Só resta uma memória distante desses tempos áureos, em que o mármore era o principal motor de desenvolvimento.
O que deverá ser feito?
Dar um novo alento à indústria do mármore ou enveredar por novas formas de progresso económico?




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