Em Janeiro de 1928, era lançado, em Vila Viçosa, o 1º número
da Revista
Portuguesa, uma publicação trimestral, dirigida por Lopes Manso e José
Emídio Amaro (um distinto Calipolense, que fará parte da próxima edição do
livro sobre os Notáveis).
Este primeiro número contou com a colaboração da Poetisa
Florbela Espanca, cuja obra só viria a merecer reconhecimento público depois da
sua morte, em 1930.
Tratava-se de uma edição de abrangência nacional, tendo como
foco privilegiado o Alentejo, do ponto de vista social, económico e cultural.
Nesta primeira edição, surge um curioso artigo sobre a
exploração dos mármores em Vila Viçosa da autoria de Bonfilho Faria (também ele
um Notável Calipolense), canteiro de profissão, escultor e Diretor técnico da
Sociedade de Mármores de Vila Viçosa.
Esta empresa, cuja oficina estava situada no Campo da Restauração,
na designada “Avenida das Oficinas”, (que surge na imagem), ganhou dois
primeiros prémios nas Exposições Industriais de Estremoz em 1926 e 1927. A sua
fundação teve como objetivo promover a indústria dos mármores “finíssimos” de
Vila Viçosa e que, na altura, já rivalizavam com os melhores mármores de
Itália.
No referido artigo, defende o autor que o Alentejo deste
tempo, para além de ser uma província essencialmente agrícola, cuja produção
cerealífera constituía a mais importante parcela para o abastecimento do país,
possuía outras “virtudes”.
Preconizava já em 1928 que a riqueza extraordinária dos
calcários em “jazigos inesgotáveis” (?), desde Estremoz até Vila Viçosa, viria
a constituir um enorme motor de desenvolvimento económico no futuro. Salientava
que era precisamente neste último concelho que se encontravam os “mais
preciosos filões”.
Bonfilho Faria escreveu que três elementos valiosíssimos
reuniram-se aqui por “milagre da Natureza” e contribuíram maravilhosamente para
a riqueza extraordinária dos mármores calipolenses: “a abundância, a estrutura
translúcida e cristalina, de beleza incomparável e a variedade das suas cores e
tons”. Defendia que os jazigos desta zona seriam dos mais numerosos e extensos
do Mundo.
Só no concelho de Vila viçosa, onde existiam as espécies mais
fina e onde estava, à época, concentrada grande parte da exploração, “havia
mármores para abastecer todo o país e satisfazer, durante muitos séculos, as
exigências de exportação, por muito intensificada que esta seja”.
Explorado desde os tempos remotos da antiga Lusitânia, o
mármore alentejano correu o Mundo, tendo sido levado no tempo dos
Descobrimentos, segundo Bonfilho Faria, para a Índia, África e Brasil.
Nas Herdades da Vigária, Coutos e Lagoa e noutras
propriedades adjacentes, numa extensão de muitos quilómetros, os jazigos
sucediam-se em enormes proporções, à “flor da terra” e constituíam uma “toalha
marmórea colossal”, que maravilhava e surpreendia todos os técnicos
estrangeiros que a contemplavam.
E se existia em quantidade, o mármore de Vila Viçosa era
também destacado pela sua excelente qualidade. Não tinham rival em nenhum outro
lugar, pela “aliança privilegiada da abundância de jazigos com a extraordinária
variedade e grande percentagem de tipos finíssimos”. Nas pedreiras de Vila
Viçosa dominava o rosa creme (que era o mais procurado nos mercados), mas
também existiam o branco neve, o rosa vivo e o branco raiado.
Não devemos esquecer que este artigo foi escrito antes da
grande industrialização deste sector, que irá ser iniciada a partir de 1950.
Nos nossos dias, assistimos a uma estagnação desta atividade, provavelmente
derivada da crise global e de novos mercados produtores em expansão.
Terá havido um erro de análise de Bonfilho Faria quando
refere que os filões existentes em Vila Viçosa seriam “inesgotáveis”? Será que
ainda existe mármore de qualidade no anticlinal? O que poderá ser feito para
dinamizar este sector? Apostar em novos produtos? Em novos mercados?
São questões de difícil resposta, tendo em conta as condicionantes
e as dificuldades relativas ao escoamento de produtos e de subprodutos.
Em menos de um século, a pujança anunciada sobre a
importância e a qualidade dos mármores desta região desvaneceu-se… Só resta uma
memória distante desses tempos áureos, em que o mármore era o principal motor
de desenvolvimento.
O que deverá ser feito?
Dar um novo alento à indústria do mármore ou enveredar por
novas formas de progresso económico?
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