segunda-feira, 27 de maio de 2019

CHAFARIZ DEL-REI


Este bebedouro, localizado no Terreiro do Paço, junto à “Janela de Lisboa”, foi construído no ano de 1772, por ordem do Rei D. José, não somente para uso público, mas principalmente para nele beberem as manadas de cavalos da Coudelaria de Alter, quando vinham pastar nas coutadas da Casa de Bragança.
Estava situado no extremo meridional do Terreiro, junto do muro do Jardim do Bosque, por debaixo da “Casa de Lisboa”. Era abastecido por nascentes provenientes da “Ilha”, tendo sido bastante utilizado durante o período em que as unidades de Cavalaria do Exército Português (Regimento de Cavalaria 3 e Escola Prática de Cavalaria) estiveram no Mosteiro de Santo Agostinho (atual Seminário Menor da Arquidiocese de Évora), ao longo do século XIX.
Foi seu construtor o pedreiro calipolense José Mendes Brochado, um dos mais engenhosos mestres de cantaria da região, no século XVIII. A sua longa taça alteada, de mármore lavrado, tinha capacidade para 50 cavalos.
Na esquina deste local existiu até 1881 uma guarita da guarda pessoal do Paço Ducal, que se demoliu nesse ano por ser considerada desnecessária.
No decurso das grandes obras de urbanização e requalificação do Terreiro do Paço, nos anos de 1939/40 (que também se aplicaram no Castelo e no centro histórico de Vila Viçosa, promovidas pelo Ministério das Obras Públicas), o CHAFARIZ DEL-REI foi demolido. Restaram apenas as três gárgulas situadas no alçado, que ainda subsistem, desenhadas em octógonos seccionados.

BIBLIOGRAFIA
ESPANCA, Túlio Inventário Artístico de Portugal – Distrito de Évora, Zona Sul, vol. I, Academia Nacional de Belas Artes, Lisboa, 1978.




sexta-feira, 10 de maio de 2019

VILA VIÇOSA E A “GRIPE ESPANHOLA”


Precisamente há cento e um anos atrás, Vila Viçosa foi assolada por um trágico acontecimento, provavelmente desconhecido para a maioria dos atuais Calipolenses.
Em meados de Maio de 1918, é identificado em Vila Viçosa o primeiro caso no nosso país da Gripe Espanhola, designação vulgarmente atribuída à Gripe Pneumónica.

O vírus foi trazido para o concelho de Vila Viçosa, precisamente de Espanha, por trabalhadores rurais que faziam na altura campanhas agrícolas em Badajoz e Olivença. A pandemia ficou por isso também conhecida como a “Senhora Espanhola”.

Este fenómeno veio de certa forma reavivar o velho ditado que afirmava que de Espanha, “nem bom vento, nem bom casamento”, numa velha alusão ao vento suão e aos casamentos reais.
O primeiro caso registado da doença em Portugal foi precisamente aqui. O regresso a casa desses trabalhadores sazonais calipolenses foi determinante para a expansão da doença. A freguesia de Ciladas/São Romão foi a mais afetada pelo vírus, que devastou dezenas de vidas.

Um notável médico calipolense, João Augusto do Couto Jardim, foi um lutador incansável contra a doença, prestando apoio médico às vítimas de forma incondicional e gratuita. Para acudir aos doentes de São Romão, fez vezes sem conta o caminho para a freguesia (que dista onze quilómetros da sede do concelho) a pé, de burro ou em carro de mula.

A partir de Vila Viçosa, verificou-se uma disseminação rápida da doença. As precárias condições de vida que afetavam a maioria da população, a generalizada ausência de condições de higiene, a insuficiência dos serviços de saúde, a falta de médicos e a falta de medicamentos foram os fatores que contribuíram para a propagação da Gripe Espanhola por todo o país. Curiosamente, os casos mais graves e mortais foram sobretudo na população jovem. Os principais sintomas eram as manchas castanhas no corpo e a pele em tons azulados, juntamente com as febres altas e as dificuldades respiratórias.

Existem no entanto várias dúvidas sobre a verdadeira proveniência geográfica do vírus. Com provável origem na Ásia, os primeiros casos na Europa são identificados nas tropas francesas em 1918, no decurso da I Guerra Mundial, eventualmente contaminados por auxiliares chineses contratados para apoio aos Aliados. Uma outra teoria defende que o vírus terá começado nos Estados Unidos e fora trazido pelas tropas americanas para a Europa, no decurso do conflito.

No total, registaram-se cerca de 40 milhões de mortes em todo o mundo, das quais entre 50 mil a 70 mil em Portugal.