sábado, 31 de março de 2018

UMA UNIVERSIDADE EM VILA VIÇOSA?


Em 1560, o quinto Duque de Bragança, D. Teodósio I, obteve do Papa Pio IV a autorização (breve de 15 de Junho) para a abertura de uma “Universidade de Estudos Gerais”, no Convento dos Agostinhos de Vila Viçosa (o mais antigo espaço conventual da localidade, mesmo em frente do Paço Ducal).

A livraria de D. Teodósio, que era um notável bibliófilo, era composta por um grande conjunto de obras, que iriam servir de base científica para criação da Universidade. Para além dos livros, existiam também instrumentos matemáticos e astronómicos. Terá sido inclusivamente criado no Paço um observatório astronómico durante o século XVI. Nesse sentido, verificava-se em Vila Viçosa uma dinâmica ao nível do ensino literário e científico, que já havia começado com D. Jaime.

 Os mestres da Universidade seriam os próprios religiosos e o Reitor seria o prior. Foram iniciadas inclusive as obras de adaptação no Convento, a expensas do D. Teodósio.

O projeto não avançou, devido à morte do Duque, ocorrida em 1563.

O sexto Duque de Bragança, D. João I, cumprindo parte da vontade do seu pai, acabou por dar início a duas classes públicas de Gramática, Latim e Grego, precisamente no Convento dos Agostinhos.

FONTE BIBLIOGRÁFICA:

TEIXEIRA, José, O Paço Ducal de Vila Viçosa, sua Arquitetura e suas Coleções, Fundação da Casa de Bragança, 1983.



quarta-feira, 21 de março de 2018

A CASA DO PRIMO MATROCO, ONDE FALECEU O PINTOR HENRIQUE POUSÃO


Em cada esquina de Vila Viçosa, há uma história por contar…

Serão estes conteúdos interessantes e apelativos ao ponto de criarem rotas, circuitos ou visitas? A casa onde nasceu, na Rua Florbela Espanca, a estátua na Praça da República e a casa onde faleceu poderiam ser os vértices desta história. Estarão os visitantes e turistas interessados em conhecer o local foram pintadas algumas das suas últimas obras? E os proprietários? Até que ponto estarão disponíveis para abrirem as suas portas e mostrarem os espaços, neste caso concreto, o quarto e o jardim?

São questões que merecem uma reflexão, para eventual benefício de todos. Mediante um conjunto de regras e de critérios, talvez fosse possível aplicar na prática uma solução interessante, do ponto de vista turístico. Com recurso a uma equipa de guias e com uma divulgação alargada, certamente haveria “clientes”, em conjugação com outras propostas já existentes e que passam pelo Paço, Castelo, Igrejas Conventos e outros museus.

Na casa que se vê na imagem, faleceu o grande pintor impressionista Henrique Pousão, no dia 24 de Março de 1884. Foi uma figura essencial de cultura e da arte portuguesa do século XIX.
Pousão tinha nascido em Vila Viçosa, no imóvel nº 10 da antiga Rua da Corredoura (atual Rua Florbela Espanca), no dia 1 de Janeiro de 1859.
A casa da Rua Agostinho Cabral (antiga Rua de Santa Luzia), na imagem, com o nº 64, é um edifício do último terço do século XVII, com portal e duas janelas de mármore e sacadas da maior simplicidade, decoradas por grades férreas, do gosto da época de D. Maria I. Nesta casa foi também pintado um dos seus últimos quadros (óleo sobre madeira) chamado “Aspeto da casa do Primo Matroco”, em 1883 e que se encontra no Museu Nacional Soares dos Reis, no Porto.
Em 2016, conseguimos identificar no jardim a perspetiva exata que inspirou Pousão para aquela que foi uma das suas últimas obras. Escrevi um artigo para a Revista de Cultura CALLIPOLE sobre esta história, no ano de 2016.

Esta casa da Rua de Santa Luzia era a residência da Família Matroco, que acolheu Pousão, gravemente doente com tuberculose, no seu regresso a Vila Viçosa, precisamente no inverno de 1883. Este acolhimento verificou-se porque o pintor era afilhado de D, Maria das Dores da Veiga, esposa de Manuel Maria Matroco.

Manuel Maria Matroco era uma figura importante na comunidade calipolense na segunda metade do século XIX. Foi fiel e escriturário da Misericórdia e era um brilhante costureiro, que tratava das decorações religiosas para as celebrações da Imaculada Conceição e da Igreja dos Agostinhos. Foi também Escrivão da Administração do Concelho e da Câmara[1].

BIBLIOGRAFIA:
ESPANCA, Padre Joaquim José da Rocha, Memórias de Vila Viçosa, 36 cadernos, Câmara Municipal de Vila Viçosa, Vila Viçosa, 1983 – 1992.




[1] Para consulta de uma biografia mais detalhada sobre Manuel Maria Matroco, poderá ser consultada a obra “Notáveis Calipolenses”, publicada em 2016.




                                       A casa do primo Matroco, na antiga Rua de Santa Luzia


Segundo o pintor-escultor Espiga Pinto, o sótão seria o estúdio de pintura de Henrique Pousão,  na casa do primo Matroco

quinta-feira, 15 de março de 2018

JAPÃO E CORIA DEL RIO


Em 1614, um grupo de aventureiros japoneses passou por Coria del Rio (Sevilha), onde vários deles se acabaram por fixar e deixar descendência. É hoje sabido que todos os habitantes desta cidade andaluza com apelido JAPÓN descendem desses japoneses que ali chegaram no início do século XVII.
O Município local, juntamente com a Associação HASEKURA, tem vindo a desenvolver um trabalho notável de investigação e divulgação desta história que liga Espanha ao Japão, o que se tem manifestado também numa cada vez maior curiosidade do público japonês sobre este tema. Os reflexos deste facto são também notórios a nível turístico.
No âmbito das relações pessoais que tenho mantido com o Prof. Suarez Japón (que foi meu Professor na Universidade de Cádiz em 1998), recebi hoje esta amável oferta, publicada em 2017 e que aborda precisamente a passagem dos japoneses por Coria del Rio. É interessante constatar como os nossos vizinhos espanhóis tem sabido aproveitar esta história para promover a aproximação entre os dois países!



segunda-feira, 12 de março de 2018

A (OUTRA) CASA DE FLORBELA ESPANCA EM VILA VIÇOSA!


Talvez muitos não saibam, mas esta é outra casa onde a grande Poetisa viveu.

Está situada na Rua Dr. Gomes Jardim (antiga Rua de Três) e foi o local onde nasceu e morreu o pintor amador João Maria Espanca (1866-1954), fotógrafo percursor da cinematografia regional e comerciante de antiguidades. Recebia frequentemente as visitas de D. Carlos e D. Amélia de Orleães e Bragança, tendo oferecido à corte real peças de arte de reconhecido valor.

João Maria Espanca era também um pintor de reconhecido mérito, estando parte considerável da sua obra exposta no edifício dos Paços do Concelho, em Vila Viçosa.
Nesta mesma residência da Rua Dr. Gomes Jardim viveram os seus filhos, Florbela, a grande poetisa alentejana (1894-1930) e o pintor futurista Apeles Demóstenes Espanca, que morreu num trágico acidente no rio Tejo, como 1.º tenente da aviação naval (1897-1927). Alguns calipolenses ainda se recordam da figura de João Maria Espanca, sentado à porta desta mesma casa, nos últimos anos da sua vida.

Esta seria uma outra possibilidade para a instalação de um projeto museológico que valorizasse a obra da grande poetisa calipolense.