terça-feira, 12 de novembro de 2019

CALLIPOLE SUBTERRÂNEA


O QUE SE ESCONDE, POR DEBAIXO DE VILA VIÇOSA?!

Sistemas antigos de condução de águas ou passagens secretas, que alimentam o nosso imaginário?


Diz a tradição popular que os Conventos de Vila Viçosa estão ligados entre si por passagens subterrâneas. Diz mesmo a lenda que entre o Convento dos Capuchos e a Ermida de Santo Eustáquio, na Tapada Real, há uma passagem secreta, usada pelos fradinhos para escaparem a qualquer eventualidade.
Os túneis existem, de facto. Mas na minha opinião, fazem parte de um complexo sistema de captação e condução de águas, essencial para as atividades monásticas. Neste caso concreto, existem várias entradas e diversas condutas perpendiculares, provavelmente usadas para levar a água a distintos locais.
Podemos falar numa rede, talvez com origem no século XVI ou XVII? É o que estou a tentar descobrir.

Decorrem as investigações, numa fase de identificação e levantamento de estruturas.


















quarta-feira, 30 de outubro de 2019

ESTÁTUA DE D. ÁLVARO ABRANCHES DA CÂMARA



Escultura de José Pereira Lima dos Santos (final do século XIX), representando D. Álvaro, com a bandeira real portuguesa, hasteada no Castelo de São Jorge no dia 1 de Dezembro de 1640.
D. Álvaro Abranches da Câmara foi um dos Quarenta Conjurados, que muito contribuiu para a aclamação do oitavo Duque de Bragança como Rei de Portugal. Servindo D. João IV, participou na Guerra da Restauração, praticando várias ações militares na Beira.
Antes disso, tinha lutado brilhantemente para o Reino de Portugal quando, em 1625, foi tomada a Bahia, no Brasil, aos holandeses.
Faleceu em 1660.
Simbolicamente, a sua estátua foi colocada neste local a norte do Castelo de Vila Viçosa, pela Fundação da Casa de Bragança, no ano 2000, por ter sido aqui que o exército espanhol do Marquês de Caracena tentou invadir este espaço, no dia 9 de Junho de 1665, dias antes da Batalha de Montes Claros.

D. Álvaro de Abranches da Câmara ou Álvaro Coutinho da Câmara 
(? -1660)
Senhor do morgado de Abranches, em Almada, foi um nobre, militar e político português; comendador de São João da Castanheira na Ordem de Cristo; governador de Abrantes, membro da Junta dos Três Estados,, mestre de campo general na Estremadura, e conselheiro de estado e do Conselho de Guerra, governador das armas da Província da Beira e da Província de Entre-Douro-e-Minho, incluindo a cidade do Porto. Ainda novo lutou brilhantemente para o Reino de Portugal quando, em 1625, foi tomada a Bahia, no Brasil, aos holandeses.
Contribuiu muito igualmente para a proclamação de D. João IV, como rei de Portugal, logo no inicio como um dos Quarenta Conjurados, sendo o primeiro que fez subir a bandeira nacional portuguesa, de novo, em Lisboa, e, assenhoreando-se do castelo de S. Jorge, soltando Matias de Albuquerque e Rodrigo Botelho, conselheiros de fazenda, que estavam ali presos pelos castelhanos. Depois na Restauração da Independência e durante a Guerra da Restauração, que se lhe seguiu, praticou várias acções de valor na província da Beira, nomeadamente, entrando em Espanha, onde saqueou e incendiou algumas vilas espanholas.
Foi provedor da Santa Casa da Misericórdia de Almada.
Falecido em 1660, está sepultado na Igreja de São Paulo de Almada.





quarta-feira, 16 de outubro de 2019

CALLIPOLE SUBTERRÂNEA – QUINTA DO MARTINHO


No âmbito do projeto CALLIPOLE SUBTERRÂNEA, identificámos hoje outra nora com uma cisterna associada, nas proximidades de Vila Viçosa (1,5 km). Trata-se de uma estrutura hidráulica com nascente de água associada. Apesar do período de seca severa que vivemos, apresenta um nível de água muito significativo, outrora utilizado para as atividades agrícolas, nomeadamente a rega da horta.
Num período em que se fala cada vez mais sobre a escassez de água, é importante salientar que no âmbito do nosso levantamento, o líquido é encontrado em abundância em muitos destes reservatórios, distribuídos pelo centro histórico e na envolvente.
Estas estruturas funcionavam num passado não muito distante como elementos fundamentais na gestão e poupança de água. Temos identificadas cerca de 20 estruturas hidráulicas (entre cisternas, noras, minas e aquedutos subterrâneos), fundamentais para a distribuição de água.

LOCALIZAÇÃO

QUINTA DO MARTINHO

Está situada nas proximidades da Quinta da Fonte Santa, ao oriente do outeiro de São Domingos.
Em 1882 moravam aqui quatro pessoas, segundo o levantamento efetuado pelo Padre Joaquim Espanca. Neste tempo, era conhecida pela existência de um pomar de laranjeiras de boa qualidade.

A Quinta do Martinho pertenceu ao Capitão Martinho José Leal, que tomou posse e juramento no dia 8 de Outubro de 1757. Em Julho desse mesmo ano, fora eleito Capitão da Companhia de São Romão, lugar vago pelo falecimento de Francisco Lopes de Torres.
Martinho José Leal foi Escrivão da Câmara, Vereador e Sargento-Mor da Ordenança, morrendo já no século XIX.

Esta área, desde a Fonte Santa, era bastante conhecida pela abundância, qualidades e virtudes das suas águas. Neste espaço, foi possível identificar uma nora com uma cisterna associada, com grande quantidade de água no seu interior, apesar do período de seca. A estrutura tem uma rampa de acesso para o animal de tração poder mover a nora e permitir a retirada de água para irrigação da horta. É semelhante a muitas outras já identificadas no centro histórico de Vila Viçosa.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ESPANCA, Padre Joaquim José da Rocha, Memórias de Vila Viçosa, 36 cads., Câmara Municipal de Vila Viçosa, Vila Viçosa, 1983 – 1992.


LEVANTAMENTO FOTOGRÁFICO
















domingo, 13 de outubro de 2019

Castelo de Vila Viçosa

Nos anos de 1939, 1940 e 1941, o Castelo de Vila Viçosa é alvo de um conjunto de intervenções promovidas pela Direção Geral de Edifícios e Monumentos Nacionais. Esta estratégia de valorização ideológica inseriu-se na ação política do Estado Novo e da exaltação dos valores ligados à Restauração da Independência, que tinha tido em Vila Viçosa, em 1640, um dos seus principais lugares. 
A planificação é pensada pelo Ministro das Obras Públicas, Duarte Pacheco, que tinha também uma forte ligação afetiva a Vila Viçosa. 


Foi então definido um plano que viria a alterar profundamente o contexto urbanístico de Vila Viçosa, inserido no estilo designado "Português Suave", que procurava implementar uma arquitetura genuinamente portuguesa.

Nestes três anos, são efetuadas as primeiras e mais significativas ações, levadas a cabo pelo empreiteiro António Domingues Esteves, consistindo na demolição de paredes de alvenaria, consolidação e regularização da muralha, construção e assentamento de degraus e de ameias, segundo as existentes; construção e assentamento de cantaria aparelhada em cunhais, portas e degraus; construção de paredes de alvenaria em muralhas; demolição da Capela de Nossa Senhora dos Remédios; reconstrução da torre cilíndrica ao lado da Porta de Évora; entaipamento da porta de Elvas e do cubelo quadrangular na sua proximidade, que descaíra, aproveitando-se os seus materiais; demolição da ponte de alvenaria de acesso à porta principal da fortaleza artilheira; demolição das duas tenalhas e da cortina, que se adossava à torre albarrã; reparação geral da armação dos telhados, com substituição de madeiras, e da cobertura na fortaleza artilheira; arranjo dos acessos ao castelo e apeamento e transferência do pelourinho, para a localização actual e da Porta do Nós (na Cerca Nova) para junto da cerca do Mosteiro dos Agostinhos. 

As grandes obras vão prolongar-se até meados dos anos 50 do século XX e abrangeram a cerca medieval, a fortaleza-artilheira e as fortificações seiscentistas.

 As intervenções efetuadas geram hoje alguma controvérsia nos especialistas sobre esta matéria, porque correspondem a um plano com uma forte carga ideológica e que sacrificou alguns dos elementos originais da Cerca Velha.
 Também a Capela de Nossa Senhora dos Remédios, situada junto da torre albarrã e provavelmente do século XVI, foi completamente demolida. Uma decisão polémica, tendo em conta o valor do revestimento azulejar do seu interior e a perda parcial do retábulo de talha dourada do início do século XVIII, felizmente recuperados por ação da Fundação da Casa de Bragança.

Na imagem, temos a construção (ou reconstrução ?) da Porta de Évora, uma das mais importantes referências do Castelo nos nossos dias. 


Fonte consultada:

www.monumentos.gov.pt/site/app_pagesuser/sipa.aspx?id=3927


quarta-feira, 18 de setembro de 2019

DOÇARIA CALIPOLENSE COM HISTÓRIA : O BOLO DUQUE


Vila Viçosa tem vindo a assumir um papel de cada vez maior destaque mediático. Somam-se as reportagens e as notícias sobre nossa realidade. Paulatinamente, os holofotes de diferentes meios de comunicação tem vindo a incidir sobre a história e o património da Vila Ducal, o que se tem refletido no aumento do número de visitantes, de modo exponencial.
Penso que é fácil comprovar que o mês de Agosto de 2019 registou um substancial crescimento em relação aos mesmos meses em anos anteriores. Conforme tenho defendido, esse aumento beneficia todos: museus, hotelaria, restauração e comércio.
Dá vitalidade à terra.
A experiência que tenho nesta área diz-me a demanda turística dos nossos dias procura uma oferta cada vez mais qualificada e vocacionada para aspetos diferenciadores: os recursos endógenos e as questões identitárias são os requisitos que muitas vezes estão na base das escolhas.
Procura-se algo diferente e pretende-se um serviço de qualidade.
E, nesse contexto, Vila Viçosa tem tudo: um património excecional e cada vez mais valorizado, uma história repleta de acontecimentos relevantes para Portugal e uma gastronomia muito rica e diversificada.
Sabemos que este triângulo de opções motiva em muitos casos a planificação das visitas.
No caso da doçaria calipolense, temos tido em grande destaque o sericá, vindo das bandas do Oriente, excelente iguaria com uma forte carga histórica e as tradicionais tibornas. Mas existe uma outra iguaria com génese em Vila Viçosa que ainda não está devidamente divulgada e que poderia constituir mais um atrativo a ter em conta nos menus e nos produtos a disponibilizar aos turistas.
Falo do BOLO DUQUE, uma receita que terá tido, segundo as crónicas, origem em Vila Viçosa, numa homenagem do chefe doceiro do Paço Ducal ao Duque de Bragança, D. Teodósio II por ocasião do seu aniversário ou do casamento com D. Ana de Velasco y Girón, em 1603.
A promoção de mais este doce, em associação com todos os outros já referenciados, podia assumir-se como uma marca específica de Vila Viçosa e tornar-se num outro factor de atratividade.
Nada melhor do que monumentos conjugados com doces e iguarias para motivar uma visita a um determinado local. Fica o desafio para os empreendedores, juntamente com a receita:

BOLO DUQUE

TEMPO DE PREPARAÇÃO : 35 minutos
TEMPO DE COZEDURA : 1 hora

Ingredientes (4 a 6 pessoas)

500 gramas de açúcar
10 gemas + 3 claras
250 gramas de batata
100 gramas de manteiga
250 gramas de miolo de amêndoa
Manteiga q.b.
Coza e rale as batatas. Pise a amêndoa e bata as claras em castelo. Bata conjuntamente todos os ingredientes e leve ao forno em forma untada com manteiga.

FONTE:
Tesouros da Cozinha Tradicional Portuguesa, Seleções do Reader’s Digest, 1984




segunda-feira, 27 de maio de 2019

CHAFARIZ DEL-REI


Este bebedouro, localizado no Terreiro do Paço, junto à “Janela de Lisboa”, foi construído no ano de 1772, por ordem do Rei D. José, não somente para uso público, mas principalmente para nele beberem as manadas de cavalos da Coudelaria de Alter, quando vinham pastar nas coutadas da Casa de Bragança.
Estava situado no extremo meridional do Terreiro, junto do muro do Jardim do Bosque, por debaixo da “Casa de Lisboa”. Era abastecido por nascentes provenientes da “Ilha”, tendo sido bastante utilizado durante o período em que as unidades de Cavalaria do Exército Português (Regimento de Cavalaria 3 e Escola Prática de Cavalaria) estiveram no Mosteiro de Santo Agostinho (atual Seminário Menor da Arquidiocese de Évora), ao longo do século XIX.
Foi seu construtor o pedreiro calipolense José Mendes Brochado, um dos mais engenhosos mestres de cantaria da região, no século XVIII. A sua longa taça alteada, de mármore lavrado, tinha capacidade para 50 cavalos.
Na esquina deste local existiu até 1881 uma guarita da guarda pessoal do Paço Ducal, que se demoliu nesse ano por ser considerada desnecessária.
No decurso das grandes obras de urbanização e requalificação do Terreiro do Paço, nos anos de 1939/40 (que também se aplicaram no Castelo e no centro histórico de Vila Viçosa, promovidas pelo Ministério das Obras Públicas), o CHAFARIZ DEL-REI foi demolido. Restaram apenas as três gárgulas situadas no alçado, que ainda subsistem, desenhadas em octógonos seccionados.

BIBLIOGRAFIA
ESPANCA, Túlio Inventário Artístico de Portugal – Distrito de Évora, Zona Sul, vol. I, Academia Nacional de Belas Artes, Lisboa, 1978.




sexta-feira, 10 de maio de 2019

VILA VIÇOSA E A “GRIPE ESPANHOLA”


Precisamente há cento e um anos atrás, Vila Viçosa foi assolada por um trágico acontecimento, provavelmente desconhecido para a maioria dos atuais Calipolenses.
Em meados de Maio de 1918, é identificado em Vila Viçosa o primeiro caso no nosso país da Gripe Espanhola, designação vulgarmente atribuída à Gripe Pneumónica.

O vírus foi trazido para o concelho de Vila Viçosa, precisamente de Espanha, por trabalhadores rurais que faziam na altura campanhas agrícolas em Badajoz e Olivença. A pandemia ficou por isso também conhecida como a “Senhora Espanhola”.

Este fenómeno veio de certa forma reavivar o velho ditado que afirmava que de Espanha, “nem bom vento, nem bom casamento”, numa velha alusão ao vento suão e aos casamentos reais.
O primeiro caso registado da doença em Portugal foi precisamente aqui. O regresso a casa desses trabalhadores sazonais calipolenses foi determinante para a expansão da doença. A freguesia de Ciladas/São Romão foi a mais afetada pelo vírus, que devastou dezenas de vidas.

Um notável médico calipolense, João Augusto do Couto Jardim, foi um lutador incansável contra a doença, prestando apoio médico às vítimas de forma incondicional e gratuita. Para acudir aos doentes de São Romão, fez vezes sem conta o caminho para a freguesia (que dista onze quilómetros da sede do concelho) a pé, de burro ou em carro de mula.

A partir de Vila Viçosa, verificou-se uma disseminação rápida da doença. As precárias condições de vida que afetavam a maioria da população, a generalizada ausência de condições de higiene, a insuficiência dos serviços de saúde, a falta de médicos e a falta de medicamentos foram os fatores que contribuíram para a propagação da Gripe Espanhola por todo o país. Curiosamente, os casos mais graves e mortais foram sobretudo na população jovem. Os principais sintomas eram as manchas castanhas no corpo e a pele em tons azulados, juntamente com as febres altas e as dificuldades respiratórias.

Existem no entanto várias dúvidas sobre a verdadeira proveniência geográfica do vírus. Com provável origem na Ásia, os primeiros casos na Europa são identificados nas tropas francesas em 1918, no decurso da I Guerra Mundial, eventualmente contaminados por auxiliares chineses contratados para apoio aos Aliados. Uma outra teoria defende que o vírus terá começado nos Estados Unidos e fora trazido pelas tropas americanas para a Europa, no decurso do conflito.

No total, registaram-se cerca de 40 milhões de mortes em todo o mundo, das quais entre 50 mil a 70 mil em Portugal.





terça-feira, 2 de abril de 2019

QUINTA DO GENERAL


Foi construída por D. João Diogo de Ataíde, 1º Conde de Alva, governador da província entre 1724-1727, por compra a Brites Coelho, em 1724, do colmeal do sítio do Misaral e da folha da coutada da Cruz do Tojal, integrada nas courelas dos bens foreiros da Câmara, para fins de vilegiatura[1].
O 1º Conde de Alva foi filho segundo do 6º Conde de Atalaia, D. João Manuel de Noronha e de D. Francisca Leonor de Mendonça, filha dos 1ºs Condes da Ribeira Grande. Foi um ilustre militar e conselheiro de Guerra do Rei D. João V, alcançando, com distinção, o posto de tenente-general, convertendo-se num dos mais competentes oficiais da Guerra da Sucessão em Espanha, onde acompanhou o marquês de Minas na tomada de Madrid em 1706.
Foi casado com D. Constança Luísa Monteiro Paim[2]. Diziam os antigos no século XIX que o casal tivera um filho, que morrera afogado no lago da quinta. D. João possuiu ainda o morgado e senhorio dos Reguengos da Maia e de Agrela e a Comenda de Santa Maria de Campanhã. Morreu a 11 de Abril de 1750.
Destacam-se alguns acontecimentos ligados a este espaço.
No dia 17 de Maio de 1727, é convocado o povo calipolense para se deferir uma petição do proprietário D. João Diogo, para se lhe aforar uma quarta parte da courela na coutada da Cruz do Tojal, que partia com colmeal do suplicante e herdades. Por ficar de ponta nesse pedaço de terra, anuem a que se defira, pondo-lhe o foro anual de 500 réis. Daqui resultou a constituição da Quinta do General, que está na coutada perto da Ribeira de Borba[3].
Em 1794, a Quinta do General foi adquirida por Estevão Duarte Cordeiro[4] a Tomé Antunes Moreira. Em 1882, segundo o recenseamento efetuado, viviam na Quinta do General três pessoas, provavelmente da mesma família[5]. Esta zona, apesar de insalubre, era conhecida pelas excelentes laranjas que produzia.
Está situada na meia encosta do aprazível vale que bordeja ao norte a estrada para São Romão, na distância aproximada de 3 quilómetros de Vila Viçosa.
Possui um excelente pomar e vestígios de um jardim de flores de espinho. A casa rural tem uma silhueta interessante pelos seus telhados e empenas assimétricas, terraço eirado e ruas de latadas. Possui ainda um tanque de lavagem e fonte de pórtico de alvenaria artística, escaiolada, com frontão recortado de tabela axial cega e arcada de pilastras e meia cúpula enconchada, obra característica de arquitetura civil do reinado de D. João V. Conserva bancos de repouso, pilaretes para as latadas e pavimento lajeado de xisto.
Nos terrenos da quinta, que até meados dos anos 80 pertenceu ao lavrador Inácio Pombeiro, recolhida da profanada igreja do Convento de São Paulo e da capela privativa da banda do Evangelho, consagrada à Santíssima Trindade, encontra-se, já bastante danificada por ter sido utilizada em qualquer engenho, a lauda sepulcral do tesoureiro-mor da Capela Ducal de Bragança, P. Dr. Manuel Pessoa, com a seguinte legenda de cronograma truncado:

S.ªE CAPELLA DO D.tor P.e M.el
PESSOA THEZOUR.º MOR Q
FOI DA CAPELLA DO ESTADO
DE BRAG.ca FAL.º EM 25 DE IAN.º16.S

No ano de 1992/3, a propriedade foi adquirida pela D. Filipa Lobato e pelo Pintor/Escultor Espiga Pinto, artista plástico natural de Vila Viçosa, que promoveram uma requalificação do espaço edificado e das estruturas anexas.
Em 1997 Dick e Elisabeth Bleyerveld adquirem a Quinta, que passa a designar-se Quinta do Colmeal, adaptando-a a unidade de turismo rural. Nessa data, o imóvel estava bastante degradado e passou por uma renovação profunda, mantendo as suas formas originais, mas não esquecendo o conforto exigido nos tempos atuais.





[1] Espaço utilizado para descanso, sobretudo no campo
[2] Filha herdeira de Rui Monteiro Paim, Secretário de El-Rei D. Pedro II
[3] ESPANCA, Padre Joaquim José da Rocha, Memórias de Vila Viçosa, 36 cads., Câmara Municipal de Vila Viçosa, Vila Viçosa, 1983 – 1992.
[4] Nasceu em Vila Viçosa em 1734. Formou-se em Direito na Universidade de Coimbra, tendo exercido advocacia em Vila Viçosa, onde sempre viveu. Foi recebedor do Almoxarifado e posteriormente, foi Administrador do Almoxarifado desta localidade em 1793.
[5] ESPANCA, Padre Joaquim José da Rocha, Memórias de Vila Viçosa, 36 cads., Câmara Municipal de Vila Viçosa, Vila Viçosa, 1983 – 1992.



Bibliografia Consultada:

ESPANCA, Padre Joaquim José da Rocha, Memórias de Vila Viçosa, 36 cads., Câmara Municipal de Vila Viçosa, Vila Viçosa, 1983 – 1992.
ESPANCA, Túlio, Inventário Artístico de Portugal – Distrito de Évora, Zona Sul, vol. I, Academia Nacional de Belas Artes, Lisboa, 1978.




                                                            Fonte do século XVIII




                                                                            Lápide

terça-feira, 5 de março de 2019

LENDA DO FORNO DA MULHER



No seguimento da terrível e verídica história dos assassinatos do Alto da Portela, o Padre Espanca, grande cronista de Vila Viçosa no final do século XIX, conta-nos uma lenda que ouviu contar aos seus pais e avós.

Escreveu que, no seu tempo, muita gente confundia a lenda do forno da mulher com a história anterior, não havendo, no entanto, qualquer ligação entre ambas. A proximidade dos locais onde se terão passado os factos gerava por vezes algumas confusões.

Tratavam-se de casos muitos diferentes.

O forno da mulher estava situado também no Alto da Portela, já quase na Toca do Lagarto, à mão esquerda de quem vem de Vila Viçosa. Estava localizado no olival que precede outro onde começa a descer a estrada vicinal para as Fontanas, passando pelo Seixo Branco. Ficava muito perto da estrada de Bencatel, não muito longe do lugar onde o terrível João executara a mulher e o filho em 1781.

A lenda do forno da mulher devia ser muito antiga, já que em meados do século XIX só já existiam ruínas do local. Em 1873, conta o Padre Espanca que o médico Bivara, proprietário do terreno, retirou o que restava do antigo forno e plantou uma estacaria de oliveiras que ainda por lá existem.

No final do século XIX, aquela zona era já somente conhecida como o sítio do forno da mulher, não existindo nessa data nenhum vestígio da construção.

Os fornos de cal tinham uma especial relevância nesta zona. Pelo menos desde a Idade Média que é conhecida a produção de cal, obtida através da liquidificação do mármore a elevadas temperaturas. Em termos económicos, até à introdução das tintas plásticas, tratava-se de uma actividade muito importante.

Em tempos muito distantes, achava-se o dito forno a cozer a cal e já no terceiro e último dia da cozedura, apareceu na estrada uma caleça (carruagem), conduzida por um homem com um ar fidalgo e uma senhora. Parando junto do forno, apeou-se o cavalheiro e foi ajustar com o caleiro a venda em globo da fornada de cal, que pagou de pronto, mandando retirar os operários que ali se encontravam a trabalhar.

Dias depois, constatando que a fornada se encontrava intacta, foi ali por curiosidade o caleiro que a vendera por inteiro e encontrou uma chinela de mulher perto da boca do forno.

Muitos dias se passaram e nunca o desconhecido comprador da cal apareceu a removê-la dali, ficando a entender os contemporâneos que o cavalheiro com a ajuda do cocheiro haviam metido a mulher que traziam na caleça, viva ou morta, para dentro do forno ardente.

Esta é a lenda, que não se sabe ser verdadeira ou não. O que é certo é que aquele local ficou para sempre conhecido como o Forno da Mulher, designação que só podia surgir por alguma razão.

Bibliografia

ESPANCA, Padre Joaquim José da Rocha, Memórias de Vila Viçosa, Cadernos Culturais da Câmara Municipal de Vila Viçosa


quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

OS MACABROS CRIMES DO ALTO DA PORTELA - parte II




Hoje, com a ajuda do Sr. António Varandas Rosado, foi possível localizar aquilo que pensamos ser o que restou do pedestal que se encontrava no local onde aconteceram os terríveis homicídios do Alto da Portela, em 1781.
Também encontrámos o “grande e largo rochedo de superfície quase plana”, mencionado pelo Padre Espanca, onde mãe e filho foram brutalmente assassinados e na proximidade do qual se levantou o dito pedestal…

Estes vestígios encontram-se num ermo, no caminho para a Fonte do Lobo e antes da Toca do Lagarto, na direção Vila Viçosa - Bencatel, 

Pouco resta desse triste monumento… Apenas uma memória distante de uma história terrível…