terça-feira, 31 de março de 2020

O OUTEIRO DA FORCA


Desde o período medieval que todas as cabeças de concelho tinham um pelourinho ou picota. Estes elementos arquitetónicos designavam as povoações autónomas que tinham leis próprias e jurisdição para as executar, corrigindo delitos e crimes[1].


O Pelourinho de Vila Viçosa foi construído na sequência da atribuição do foral pelo Rei D. Manuel I em 1512 e encontrava-se inicialmente na designada Praça Velha, a norte da Torre Albarrã, em lugar não muito distante da localização atual[2], sendo utilizado somente para a exposição pública de delinquentes e afixação de editais. 

O conjunto, que se ergue a cerca de oito metros de altura, é seguramente um dos mais requintados exemplares do seu estilo, refletindo bem não apenas a categoria do concelho, mas igualmente a importância do Ducado de Bragança.

Nunca teve gancho de ferro, nem parte onde se atasse uma corda para os enforcamentos. Terá eventualmente sido utilizado como patíbulo de degolações, por se encontrar na antiga praça pública de Vila Viçosa[3].


Na localidade, existia um lugar específico para as execuções capitais por enforcamento.


A nordeste de Vila Viçosa, por entre as hortas da Ribeira do Beiçudo, junto dos muros da Tapada Real e nas cercanias do caminho do Convento dos Capuchos, encontra-se o Outeiro da Forca.

Era neste local que estava levantada a forca, na elevação situada a oriente da Ermida de São Bento e que ainda conserva esta designação, apesar de terem sido derrubados, em 1860, os dois altos paredões em que se apoiava a travessa de ferro ou madeira onde se penduravam os “infames criminosos”.


Por vezes, chegavam a ser executados dois ou três no mesmo dia, ficando os cadáveres lá pendentes ao capricho dos ventos, dos insetos e das aves de rapina. As escadas eram levadiças e só eram ali colocadas quando tinha de subir algum padecente.

No dia 1 de Novembro, durante o período da tarde, lá ia em procissão a Confraria da Misericórdia, que trazia na sua tumba os restos mortais que lá se encontravam, para lhes dar sepultura.


Como durante a Guerra da Restauração deixou de haver execuções capitais em Vila Viçosa, acabou a Santa Casa da Misericórdia com a dita procissão. A 13 de Novembro de 1673, acordou a Confraria em conservar tal prática ainda que nada houvesse a recolher da forca, visto que outras vilas e cidades ainda preservavam a referida manifestação religiosa[4].


O Outeiro da Forca, devido à sua localização estratégica, foi utilizado pela artilharia castelhana do Marquês de Caracena, no dia 9 de Junho de 1665, para o ataque ao Castelo de Vila Viçosa[5], dias antes da Batalha de Montes Claros.



[1] ESPANCA, Joaquim José da Rocha, Memórias de Vila Viçosa nº 4, Vila Viçosa, Câmara Municipal de Vila Viçosa, 1984, p. 37
[2] O Pelourinho terá sido deslocado para a implantação atual no primeiro quartel do século XX
[3] O centro cívico de Vila Viçosa manteve-se neste local até 1664, altura em que a Câmara Municipal, a Cadeia e os Açougues foram demolidos para a criação de uma estrutura defensiva, designada Estacada, essencial para defender o Castelo no âmbito das Guerras da Restauração.
[4] ESPANCA, Joaquim José da Rocha, Memórias de Vila Viçosa nº 27, Vila Viçosa, Câmara Municipal de Vila Viçosa, 1984, p. 67
[5] COELHO, António Borges, Da Restauração ao ouro do Brasil, História de Portugal VI, Editorial Caminho, 2017




domingo, 29 de março de 2020

A "RUA DE TRÊS" E AS PESTES E EPIDEMIAS EM VILA VIÇOSA



Diz a lenda que a Rua de Três (Rua Dr. Gomes Jardim ou antiga Rua do Hospital), tem essa designação devido ao facto de, a dada altura, somente terem sobrevivido a um surto de peste três pessoas, que pertenciam ao mesmo agregado familiar. 


Porém, uma outra versão refere que a rua tem esse nome por estar “atrás” do Hospital[1], sendo essa provavelmente a sua primitiva designação. É possível que esta o toponímico tenha sido atribuído pelo facto desta ser a terceira artéria a contar do Castelo.

Numa altura em que, mais que nunca, ter esperança é fundamental, recordo alguns episódios que tiveram lugar ao longo da história de Vila Viçosa, durante os quais pestes e epidemias assolaram a localidade e que poderão ter dado origem ao lendário nome da artéria calipolense, em data incerta.


Ao longo do tempo e à semelhança do que aconteceu no país e na vizinha Espanha e na Europa, foram muitos os surtos que atingiram a o concelho calipolense. Em todas as situações, foram definidas medidas preventivas para fazer face a potenciais ameaças epidemiológicas. A resiliência é um fator transversal, em associação com as medidas concretas que foram aplicadas no terreno e que conseguimos identificar.


A presença dos Duques de Bragança em Vila Viçosa, a partir de D. Fernando I, (2º Duque), no século XV, trouxe consigo a atribuição de privilégios a boticários, que tinham também como missão zelar pela saúde dos calipolenses, no caso de aparecimento de pestes. Os boticários tinham como função preparar os medicamentos, de acordo com as indicações dos médicos.


No século XVI, foram registados vários episódios de peste, algumas delas provavelmente sentidas em Vila Viçosa. Entre 1504 e 1516, verificaram-se os primeiros surtos no Alentejo, que se agravaram devido às crises de fome e às deficientes condições de higiene da população. 


O que a história nos demonstra é que as epidemias foram recorrentes, mas sempre enfrentadas com ações concretas. Que lições nos pode dar a História, apesar da diferente natureza das doenças? 


Relatamos alguns dos principais episódios registados em Vila Viçosa.


1569


A primeira notícia que dá conta de um surto de peste em Vila Viçosa data de 1569. Neste ano, a Misericórdia local enterrou um grande número de defuntos. Escravos, criados e pobres eram sepultados juntamente com nobres, mercadores e escudeiros[2].


1580


Em 1580, ano em que perdemos a independência na sequência do desastre de Alcácer Quibir, chegou também a peste. Foi a doença de maior mortandade até ao século XVIII. Este facto ocorreu na primavera e a epidemia foi crescendo até ao verão, provocando grande mortandade. Só no dia 13 de Junho, faleceram 23 pessoas. Todos os que possuíam herdades ou quintas, optaram por fugir para o campo.

O gado bovino foi introduzido no Convento da Esperança, para retemperar o ambiente empestado. A doença grassou de tal forma que os Duques de Bragança, D. João e D. Catarina, tiveram que abandonar o Paço e fugir para Portel. A doença dizimou muita gente, nomeadamente algumas figuras importantes, de vários grupos etários e de distintas classes sociais, com especial incidência em escravos e criados. Muitos deles pereceram no Hospital da Misericórdia e outros foram encontrados já sem vida nas respectivas residências.

A debilidade dos organismos, a falta de higiene e a deficiente assistência médica facilitaram a propagação da peste. As unidades de saúde existentes não conseguiram responder a uma vaga tão elevada de casos.

Neste período existiam em Vila Viçosa três hospitais: o Hospital da Misericórdia, a enfermaria do Duque de Bragança, que servia apenas para os seus criados e o Hospital das Boubas, que também era administrado pela Casa de Bragança e que servia somente para tratar doenças venéreas, como a sífilis.

Cada uma destas unidades de tratamento possuia um corpo de médicos, cirurgiões, barbeiros e boticários, para tratamento dos doentes. Alguns dos melhores médicos deste período terão passado pela corte dos Duques de Bragança em Vila Viçosa.

Os efeitos sociais e económicos decorrentes da perda demográfica originada pela peste tiveram como consequência um incremento das ações políticas para mitigação do problema[3].

Só no inverno desse ano a peste terá cessado.


1581


Neste ano, a peste assolou novamente Vila Viçosa, tendo o sexto Duque de Bragança, D. João I, nomeado um guarda-mor da saúde, que tinha poderes excepcionais para poder actuar, em termos da circulação de pessoas e bens. Era ele quem determinava as entradas na vila. Se alguém viesse de algum lugar suspeito, podia ser detido e condenado com até um ano de degredo nos coutos de Castro Marim.


1583


Nova vaga de peste, com a nomeação de um novo guarda-mor da saúde. A escolha recaiu no licenciado Lopo de Abreu Castelo Branco, juíz de fora da vila e pessoa de reconhecida autoridade. Apesar das medidas tomadas, nomeadamente a restrição em termos de circulação de pessoas e animais, o asseio das ruas e a purificação do ar através de fogueiras acesas, a peste voltou a atacar com intensidade, revelando a fragilidade do sistema de saúde local, que não conseguia acudir a tantos enfermos.

A mobilização do pessoal sanitário, a publicação de regimentos de saúde, a criação de cordões sanitários e o levantamento de hospitais para os mais necessitados não foram suficientes para conter o novo surto. A suspensão de festas e feiras e as medidas de prevenção para o enterro dos infetados ficaram além do efeito esperado.


1590


Nova vaga de peste, com as religiosas do Convento da Esperança a tomarem medidas espirituais, para além das medidas higiénicas. Foi solicitada a introdução no espaço conventual da imagem de São Sebastião (que atualmente se encontra no Museu da Sé de Évora), para que fosse restabelecida a saúde das freiras, através da proteção do santo[4].


1763


Durante este ano, acumularam-se em Vila Viçosa muitas tropas, já que aqui se encontrava o Quartel-General do Alentejo. Nas forças militares encontravam-se muitos soldados estrangeiros, nomeadamente protestantes alemães e muitos ingleses.

No ano anterior tinha eclodido a Guerra do Pacto de Família, motivada pelo facto do Rei D. José não querer unir-se aos Reis de Espanha e França (Carlos III e Luís XV) na guerra contra Inglaterra, a nossa mais antiga aliada[5]. Comandados pelo General alemão Conde de Lippe, esta aglomeração de gente deu origem ao desenvolvimento de febres epidémicas, provavelmente tifo, que dizimaram muitas tropas e muitos calipolenses.

Os cadáveres dos estrangeiros protestantes foram enterrados em chão profano, na zona do Carrascal e foi necessário benzer a terra para os cristãos que já não cabiam nas sepulturas das igrejas. As febres contagiavam o médico que tentava curar, os padres agonizavam e quem assistia aos enterramentos, acabava por ser contagiado.

A epidemia começou em Dezembro de 1762, quando já estava terminada a guerra, mas continuou pelo mês de Janeiro. A taxa de mortalidade foi bastante elevada, conforme se pode constatar no Livro de Óbitos de São Bartolomeu. Esta epidemia deu origem à instituição do Recolhimento das Irmãs de Nossa Senhora do Carmo, conhecido como Beatério, fundada pela Irmã Violante Perpétua de Jesus Maria.

A Irmã Violante, como era conhecida, sendo nesta época Regente do Recolhimento de Redondo, ao ter conhecimento de que a epidemia grassava por Vila Viçosa e que havia falta de assistência no tratamento dos enfermos e nos funerais, pôs-se a caminho com três companheiras, aproveitando esta situação de prestação de socorro, com a intenção de criar aqui uma instituição de solidariedade[6].

Com autorização da Câmara, instalou-se o Beatério na Ermida de São José[7].


1833


Neste ano, registou-se uma epidemia de cólera em Vila Viçosa. A doença terá grassado neste ano na Estremadura espanhola e foi trazida para a vila alentejana por um soldado que se encontrava destacado em Lisboa e que veio passar uns dias de licença a casa. Depois de contaminar a família do visado, a doença espalhou-se pelos vizinhos e por toda a localidade. Após ter infectado a vila, passou para São Romão, Bencatel e Alandroal onde vitimou várias pessoas[8].

Este surto de cólera morbus foi trazido pelo miliciano Jacinto das Dores, contagiado em Lisboa e já restabelecido, que regressou a Vila Viçosa em meados de Junho, de licença.

Era solteiro e vivia com a mãe e a irmã nas Aldeias. Logo após a sua chegada, ambas adoecem, acabando por falecer dias depois. Em seguida, foram contagiados alguns vizinhos e posteriormente, algumas pessoas moradoras no Rossio e na Rua da Freira (actual Rua Alexandre Herculano).  A taxa de mortalidade acabou por ser bastante elevada, com enterramentos generalizados em igrejas e ermidas.

 A epidemia proliferou até finais de Julho, passando para as aldeias de Bencatel e São Romão. A freguesia de Pardais não foi afectada, por ser pequena e de povoamento disperso.

A doença atacou sobretudo os escalões etários mais avançados e os sintomas desta enfermidade contagiosa eram os seguintes: as unhas ficavam roxas, vómitos e diarreias e “arrefecia-se por tal modo o sangue que para aquecê-lo e poderem ter lugar as sangrias era mister empregar a fricção com escova”.

Como prevenção, foi proibida a venda e o consumo de ameixas, leite, pepinos verdes e outros alimentos e frutos indigestos que pudessem criar problemas intestinais.

Um das vítimas do contágio foi o Prior de São Bartolomeu, Frei António Pedro da Rocha que, no dia 18 de Julho, foi atingido por uma baforada de uma paroquiana durante a confissão e morreu logo no dia seguinte, ao passo que a enferma convalesceu e recuperou nas semanas seguintes[9].

A  quarentena foi uma das medidas tomadas, para evitar o alastramento.


1855


Foi criado um hospital no Castelo para atendimento exclusivo destes doentes de cólera, que contou com o apoio da Misericórdia em termos de fornecimento de camas, alimentos, medicamentos e material clínico, assim como a disponibilização de enfermeiros[10].


1856


Este ano ficou assinalado por uma nova epidemia de cólera morbus. Abriam-se as malas do correio na portaria do antigo Convento de São Paulo (edifício da SOFAL) e ali eram passadas todas as correspondências por cima do perfume de alcatrão e outros cheiros que exalava um fogareiro de brasas vivas, como meio de prevenção.

Nos fins de Setembro e princípios de Outubro foram ainda registados em Vila Viçosa cinco ou seis casos. Porém, as autoridades sanitárias não divulgaram o aparecimento do contágio para não se horrorizar o povo calipolense e os casos passaram despercebidos. A notícia só foi disponibilizada posteriormente[11].

A permanência da cólera manteve-se pelo menos até meados de 1857[12].


1865


Surgiu uma vaga de cólera em Elvas, devido à sujidade acumulada no sistema de canalização da cidade. Os canos estavam obstruídos e cheio de lixo, acabando por rebentar, empestando a cidade.

A notícia chegou a Vila Viçosa e adoptaram-se medidas preventivas, com guardas colocados nas entradas da localidade, para impedir o acesso de pessoas provenientes da cidade. Taparam-se com madeira as passagens no Rossio e no Carrascal e nas Aldeias, Porta da Esperança, Buraco do Corregedor (junto da Rua Luís Casadinho), Porta dos Nós e Porta de Santa Luzia, cerrando-se também o Boqueirão de Luis Jorge e o Arco da Lapa[13].

Os calipolenses ficaram assustados e recorreram aos auxílios sobrenaturais. Em tempo de crise, todos os recursos são utilizados para aliviar as maleitas e superar as adversidades. Fizeram-se preces públicas nas igrejas, além das particulares dirigidas principalmente à Padroeira de Portugal, durante o serão, por famílias que se encaminhavam frequentemente para o adro da Matriz. Em Bencatel, os moradores promoveram preces públicas, com a organização de uma festa em honra de Santa Ana.

Para antecipar a resposta, foi preparado o hospital, no sentido de prevenir qualquer ocorrência. Felizmente, o surto não atingiu Vila Viçosa.


1873/74


A varíola parece ter feito a sua primeira aparição em neste ano, contagiando sobretudo crianças e jovens. Apesar de vacinados, alguns jovens sucumbiram à doença, que veio acompanhada pelo sarampo. Para além da vila foi também atacada a freguesia de Pardais, tendo-se registado algumas mortes entre os infectados[14]. Em Bencatel houve também algumas mortes. A varíola regressou a Vila Viçosa, em 1884 com um novo surto.



1884


Recrudesceu neste ano a epidemia de varíola ou bexigas em Vila Viçosa, Bencatel e Pardais, com algumas fatalidades. O Padre Joaquim Espanca, grande cronista da terra, foi infectado no final de Maio. Nesta altura, já havia vacinas contra a doença, o que salvou muitas pessoas[15].

Este ano surgiram também os primeiros casos de cólera asiática em França, nomeadamente em Marselha e Toulon, passando rapidamente para Itália e chegando aos portos de Espanha. Foi constituída por este motivo uma comissão de saúde pública, formada entre outros, pelo Presidente, Escrivão da Câmara e Administrador do Concelho, com o objetivo de serem tomadas precauções sanitárias contra este flagelo. A comissão ordenou que a Câmara removesse dos povoados todas as estrumeiras e o gado suíno que se encontrava nos quintais, assim como proibiu a venda de frutas e peixe no mercado, sem estar verificado o seu estado de conservação.

As frutas verdes ou géneros estragados foram enterrados nos fossos do Castelo. Durante o ano, a junta de saúde fez visitas domiciliárias para verificar a existência ou não de focos de infecção, impondo multas aos incumpridores. Muitos cidadãos que tinham porcos de engorda em pocilgas não tiveram alternativa senão retirá-los para os olivais e quintas fora de Vila Viçosa e nas freguesias rurais.


1885


O possível regresso da cólera a Vila Viçosa implicou um esforço redobrado. Foram registados alguns casos na província de Badajoz, o que levou a comissão sanitária do concelho a montar novamente um hospital para coléricos no castelo da vila. A Misericórdia, sabendo desta posição, participou com a oferta de roupas e vinte camas, disponibilizando também todos os meios do seu hospital para em caso de necessidade, poderem ser utilizados.

 Devido a este surto foram tomadas algumas medidas sanitárias concretas pelo Município: retiraram-se os porcos da vila, proibiu-se a realização da feira de Agosto e a de Janeiro foi substituída por um mercado. A feira de Agosto foi suprimida como medida preventiva de saúde pública, para impedir a vinda de espanhóis potencialmente infectados.

 Para procurar limitar a circulação entre as fronteiras, foi criado um cordão sanitário. O surgimento de unidades de tratamento em determinados períodos estava relacionado, por um lado, com a incapacidade dos hospitais existentes resolverem todas as situações, nomeadamente o acréscimo de doentes, mas, por outro, com as características das doenças[16].

Os portadores de doenças contagiosas, se fossem recebidos nos hospitais normais, acabavam por colocar em perigo todos os internados. Por isso, estavam interditos nestes locais. Quando era necessário, montavam-se novos centros de tratamento e desmontavam-se logo que o surto passava.


1918


O primeiro caso da Gripe Espanhola em Portugal foi registado em Vila Viçosa em Maio. O vírus foi trazido por um trabalhador agrícola que vinha dos campos de Badajoz e rapidamente alastrou-se pela sede de concelho e pelas freguesias de Bencatel e São Romão, onde se verificou uma elevada taxa de mortalidade. As deficientes condições de higiene e a fraca dieta alimentar propiciaram o aumento exponencial de casos.



Conclusão


Ao longo da história, são muitos os casos em que epidemias e doenças de diferente tipologia assolaram Vila Viçosa, mas que foram sempre encaradas com medidas concretas em termos de actuação, desde o século XVI.  

São evidentes algumas semelhanças com medidas que hoje são tomadas, em termos de controlo sanitário ou interdição de movimentos. Nem sempre surtiram o desejado efeito, mas foram assumidas e implementadas pelas entidades competentes dos diferentes períodos.

São factuais as ações para combater as enfermidades, através de exemplos de grande resiliência, em que se destacam o investimento nas unidades hospitalares e a criação de novos equipamentos, sempre que uma ameaça surgia. A população esteve unida para o combate contra os inimigos invisíveis.

Os laços de solidariedade entre o Município, o Exército, a Casa de Bragança e a Santa Casa da Misericórdia são exemplos de que o trabalho em equipa pode trazer resultados concretos. Este é o segredo para fazer face à adversidade, apesar das circunstâncias atuais serem completamente distintas. Poderão estas lições ser úteis nos dias que correm? Seguramente que sim. Até porque algumas medidas profiláticas continuam a demonstrar alguma eficácia, nomeadamente o isolamento social e a limpeza dos espaços públicos.


Convêm aprender com a História!




[1] ESPANCA, P. Joaquim José da Rocha, Compêndio de notícias de Villa Viçosa: província do Alentejo, Typ. De Francisco de Paula Oliveira Carvalho, Redondo, 1892 (HG 13830 V.)
[2] ARAÚJO, Maria Marta Lobo de, As Pestes Quinhentistas em Vila Viçosa, Revista de Cultura Callipole nº 14, Câmara Municipal de Vila Viçosa, 2006, pp 31-37
[3] ARAÚJO, Maria Marta Lobo de, As Pestes Quinhentistas em Vila Viçosa, Revista de Cultura Callipole nº 14, Câmara Municipal de Vila Viçosa, 2006, pp 31-37
[4] ARAÚJO, Maria Marta Lobo de, As Pestes Quinhentistas em Vila Viçosa, Revista de Cultura Callipole nº 14, Câmara Municipal de Vila Viçosa, 2006, pp 31-37
[5] Este conflito foi de curta duração, terminando em Dezembro 1762, com um acordo de paz, sem que em Vila Viçosa tivesse havido confrontos.
[6] ESPANCA, Joaquim José da Rocha, Memórias de Vila Viçosa nº 12, Vila Viçosa, Câmara Municipal de Vila Viçosa, 1984, p. 22
[7] A Ermida de São José estava localizada na zona da Mata Municipal, tendo sido fundada no século XVII, tendo desaparecido no final do século XIX.
[9] ESPANCA, Joaquim José da Rocha, Memórias de Vila Viçosa nº 15, Vila Viçosa, Câmara Municipal de Vila Viçosa, 1984, pp. 49-50
[10] ARAÚJO, Maria Marta Lobo de, As Pestes Quinhentistas em Vila Viçosa, Revista de Cultura Callipole nº 14, Câmara Municipal de Vila Viçosa, 2006, pp 31-37
[11] ESPANCA, Joaquim José da Rocha, Memórias de Vila Viçosa nº 18, Vila Viçosa, Câmara Municipal de Vila Viçosa, 1984, p. 41
[12] ARAÚJO, Maria Marta Lobo de, As Pestes Quinhentistas em Vila Viçosa, Revista de Cultura Callipole nº 14, Câmara Municipal de Vila Viçosa, 2006, pp 31-37
[13] Estes eram os acessos da Cerca Nova, uma estrutura fortificada do século XVI que incluia a malha urbana quinhentista de Vila Viçosa, que desapareceu completamente no final do século XIX.
[14] ESPANCA, Joaquim José da Rocha, Noticias de Vila Viçosa…, nº 19, p. 24.
[15] ESPANCA, Joaquim José da Rocha, Memórias de Vila Viçosa nº 21, Vila Viçosa, Câmara Municipal de Vila Viçosa, 1984, p. 28
[16] ARAÚJO, Maria Marta Lobo de, As Pestes Quinhentistas em Vila Viçosa, Revista de Cultura Callipole nº 14, Câmara Municipal de Vila Viçosa, 2006, pp 31-37



BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ARAÚJO, Maria Marta Lobo de, As Pestes Quinhentistas em Vila Viçosa, Revista de Cultura Callipole nº 14, Câmara Municipal de Vila Viçosa, 2006.

ESPANCA, P. Joaquim José da Rocha, Compêndio de notícias de Villa Viçosa: província do Alentejo, Typ. De Francisco de Paula Oliveira Carvalho, Redondo, 1892 (HG 13830 V.)

ESPANCA, Joaquim José da Rocha, Memórias de Vila Viçosa, Vila Viçosa, Câmara Municipal de Vila Viçosa, 1984.






sexta-feira, 27 de março de 2020

PORTA DO NÓ E PORTA DOS NÓS


Em primeiro plano, a Porta do Nó.


Tratava-se do primitivo acesso ao Paço de D. Jaime de Bragança e à “Ilha”, onde se encontravam as cavalariças e as dependências do escravos. Do lado direito da imagem, ao fundo, a Porta dos Nós ou Porta da Vila, onde desembocava a “Estrada Real” de Borba.

Esta entrada da vila fazia parte da Cerca Nova, uma fortificação do século XVI que envolvia toda a malha urbana quinhentista, com ligação ao Forte de São Bento, foi deslocalizada para os muros do Mosteiro dos Agostinhos, onde se encontra nos nossos dias. Esta mudança foi realizada em 1939/40, na sequência das intervenções do Estado Novo, promovidas pelo Ministro das Obras Públicas, Duarte Pacheco.

 A alteração deveu-se ao aumento do tráfego automóvel pelo local.



domingo, 22 de março de 2020

Paço Ducal de Vila Viçosa

Fotografia do Terreiro do Paço, no primeiro quartel do século XX. A estátua equestre de D. João IV, primeiro Rei da dinastia de Bragança, foi inaugurada no dia 8 de Dezembro de 1943. O projeto foi do Escultor Francisco Franco e o pedestal do Arquiteto Pardal Monteiro.


sábado, 21 de março de 2020

Praça Nova de São Bartolomeu

Confinado ao lar, vasculhando os arquivos, encontrei um postal da Praça Nova de São Bartolomeu (mais tarde, Praça Rainha D. Amélia), designada actualmente como Praça da República, nos anos 20/30 do século XX. Por esta altura, Vila Viçosa recuperava da Gripe Espanhola, que tinha assolado o concelho durante o ano de 1918.
O povo reunia-se junto da Fonte do Carrascal (ou das Bicas), deslocada da envolvente da Ermida de São João Baptista em 1886. Era provavelmente dia de mercado. No alto da Praça, a Igreja de São João Evangelista, conhecida como vulgarmente Igreja de São Bartolomeu ou Igreja do Colégio dos Jesuítas.


sexta-feira, 6 de março de 2020

Vila Viçosa, a Gripe Espanhola e o heroísmo do Dr. Couto Jardim


Numa altura em que o COVID 19 (Coronavírus) se propaga de forma incontrolável, adiando projetos e iniciativas na vida de cada um de nós, causando um enorme impacto social, com consequências económicas graves, partilho algumas informações sobre a popularmente designada “Gripe Espanhola” e a sua chegada a Vila Viçosa em 1918, onde foi registado o primeiro caso em Portugal.

Esta pandemia teve diversas designações: influenza, senhora espanhola, gripe espanhola ou pneumónica e espalhou-se por quase todo o globo, a uma velocidade vertiginosa.



Os dados que aqui apresento constam nos relatórios da Subdelegação de Saúde de Vila Viçosa, produzidos pelo Dr. Couto Jardim, que teve um papel decisivo no apoio aos doentes. Estes documentos constituem uma base de investigação muito interessante para futuras pesquisas e encontram-se no Arquivo Histórico Municipal de Vila Viçosa.



A influenza de 1918 marcou data memoranda nos anais epidemiológicos do país e de todo o mundo, coroando com a mais alta mortandade a série de pandemias gripais observadas no século XIX e nesse decurso, sobrepujou entre nós em mortandade os flagelos pestilenciais da peste, cólera, peste e febre-amarela.

A crónica portuguesa deste formidável andaço, que teve um impacto brutal no mundo urbano e rural, dizimou dezenas de vidas e lançou o pânico e o terror na população.

E o que aconteceu?

A vida em Vila Viçosa seguia a sua rotina normal, subitamente alterada com a chegada da Gripe Espanhola, que entre 1918 e 1919, ceifou a vida de centenas de calipolenses.



Surgida no decurso da I Guerra Mundial, a pandemia chegou mais depressa a Vila Viçosa do que os filhos da terra que tinham sido destacados para o conflito.

As difíceis condições de vida da maioria da população fomentaram a propagação da doença. Com sucessivos anos de más colheitas agrícolas e a entrada de Portugal na guerra em 1916, os preços dos bens alimentares essenciais, como o pão, o azeite, as hortaliças e o arroz, sofreram uma inflação acentuada, transformando a fome num fenómeno endémico e afundando o país numa profunda crise. Não era somente a guerra que matava…

A pneumónica chegou sem aviso e apanhou um país desprevenido. Em Maio de 1918, o primeiro caso surge precisamente em Vila Viçosa e foi-se deslocando de sul para norte. A entrada da pneumónica em Portugal deu-se através dos trabalhadores sazonais portugueses que iam diariamente de Vila Viçosa para os campos agrícolas de Badajoz e Olivença, de modo a ganharem o pão, trazendo consigo a doença para a localidade alentejana.

A “influenza magna” foi devastadora e sacudiu Vila Viçosa em duas ocasiões: Uma invasão epidémica primitiva, espanhola, em Maio e Junho e outra secundária, pneumónica, que lavrou de Agosto a Dezembro.

As autoridades sanitárias foram apanhadas de surpresa e não souberam lidar com a situação grave que surgia. A estirpe do vírus matava com uma rapidez nunca antes vista.

Há hoje várias teorias sobre o local onde começou a doença: na base militar de Etables, na costa norte de França; trazida por soldados indochineses (Vietname, Laos e Camboja) que lutaram em França entre 1916 e 1918; ou num acampamento militar no Kansas (Estados Unidos da América) entre militares que depois viajaram para a Europa.

Mas as dúvidas são demasiadas e nunca se chegou a uma conclusão.

Relativamente a Portugal, os dados consultados confirmam que a chegada da “Senhora Espanhola” a Vila Viçosa foi dramática…

A população calipolense foi muito atingida, não chegando a haver caixões suficientes para os óbitos que iam ocorrendo. A morte chegava em poucas horas, depois de detetados os primeiros sintomas.

As maçãs do rosto dos pacientes ficavam com manchas vermelhas ou acastanhadas e com o avançar das horas, a pele começava a ficar azulada ou negra, não sendo muitas vezes possível identificar a cor original do doente. A maioria morria sufocada, caindo como tordos, afogados nos seus próprios fluídos. Não bastava o drama de muitos dos filhos da terra terem partido para combater nas terras de França. Somava-se agora este terrível flagelo da pneumónica.

Naquele tempo, os parcos hábitos de higiene e a circulação das pessoas por todo o território ajudaram à disseminação da pandemia, que foi alastrando a uma velocidade vertiginosa. Portugal era país maioritariamente rural, com sucessivas epidemias e as consequentes crises sanitárias, a viver uma crise política e com a Primeira Guerra Mundial como pano de fundo. Houve aldeias que literalmente desapareceram, assim como famílias que se extinguiram. Felizmente esse não foi o caso de Vila Viçosa…


O Presidente Sidónio Pais, que tinha alcançado o poder graças a um golpe militar, bem se esforçou para acudir a população, mas os efeitos da doença foram nefastos, ao ceifarem milhares de vidas de jovens. Os cerca de seis milhões de portugueses, vivendo num país marcadamente rural, sofreram bastante com a pandemia. 


O próprio contexto da Guerra Mundial era outro dos fatores que contribuía para a disseminação do vírus . Havia tropas que se movimentavam, que estavam juntas em aquartelamentos militares, havia uma superlotação dos hospitais de campanha e de retaguarda, baixas da própria guerra, com a guerra química, população malnutrida e o próprio regresso a casa trazia consigo o mal.

A situação foi-se tornando dramática ao longo de meses…


O concelho de Vila Viçosa não foi exceção. Até porque foi o primeiro em solo nacional a ser atingido.

Surgiram grandes despesas do Hospital da Vila (Hospital do Espírito Santo ou da Misericórdia) no tratamento dos doentes, sobretudo provenientes das classes proletárias, onde as condições de higiene eram insuficientes e nada beneficiadas pelas casas insalubres e pouco arejadas, que albergavam grande parte da população calipolense. Com a doença, as pessoas eram aconselhadas a lavar as vias respiratórias com água salgada, a ventilar as habitações e a não descurar os hábitos de higiene, o que nem sempre era respeitado.

Por esse motivo, a epidemia gripal grassava com toda a intensidade, devastando lares inteiros. Num determinado momento, a situação foi incontrolável, devido à falta de médicos e de remédios eficazes.

 Uma figura destacou-se no auxílio aos enfermos, designados como “epidemiados” num tempo “horroroso” da morte que pairava de modo sinistro sobre vilas e aldeias do país.

  O seu nome era João Augusto do Couto Jardim. Notável e benemérito calipolense, foi um homem de invulgar sensibilidade e altruísmo.

Nascido em Vila Viçosa no dia 16 de Agosto de 1879, numa casa da Rua de Santo António, era filho do médico João Gomes Jardim e de Maria Olímpia do Couto Jardim. A família era proveniente da ilha da Madeira. Passou toda a infância e adolescência em Vila Viçosa. Em 1903, concluiu o curso de Medicina na Universidade de Coimbra e de imediato regressou à sua terra natal para exercer a profissão de médico.

Durante a febre pneumónica, graças ao seu espírito altruísta, sempre se preocupou com as enfermidades dos seus pacientes, fazendo visitas ao domicílio, sem nada cobrar por isso. Era clínico delicado e bondoso, que tinha como primeiro dever seu animar os doentes e dar-lhes, antes de qualquer remédio, o conforto moral de uma palavra amiga. Na sua incansável ação clínica nestes tempos difíceis, recomendava também aos doentes o banho frequente, para uma melhor higiene e controlo da febre. A fumigação de eucalipto da Serra d’Ossa era outra das receitas para a desinfeção de casas e quartos.

As situações de miséria com que, por vezes, deparava, provocavam nele um sentimento de piedosa caridade, fazendo com que, para além de dar o seu melhor a título gratuito, partia depois de deixar todo o dinheiro que levava consigo…

A extrema e estrutural pobreza da população fazia com que a maioria tivesse uma alimentação má e escassa desde o seu nascimento. Não havia carne, peixe, manteiga, açúcar ou arroz. As hortaliças escasseavam e a falta de alimentos só contribuía para o rápido alastrar da doença.

E a gripe espanhola ia avançando, de forma quase explosiva, ceifando as vidas de muitos calipolenses, sem dó nem piedade. E o médico assumiu-se, no meio do caos, como um grande estudioso desta nova doença, compilando dados e observando a evolução do estado de saúde dos epidemiados,

Segundo as investigações e os registos do Dr. Couto Jardim, o mal da pneumónica conservou-se em casos esporádicos, de modo que se pode estabelecer a continuidade da primeira com a segunda onda, sendo por isso possível que se tratasse de uma reincidência local aumentada com alguns casos que vieram de outros contextos, trazida pelos soldados de cavalaria que se encontravam na Escola Prática de Cavalaria, instalada no Mosteiro dos Agostinhos.

Os primeiros casos registados são os da vila e logo a seguir, Bencatel; daqui a doença irradiou para o resto do concelho. Em Vila Viçosa, a condução epidémica foi afetada de facto pelas feiras de Sousel e do Redondo (concelhos vizinhos), de onde vieram e para onde partiram muitos infetados.

A invasão foi muito rápida, abarcando 40% da população ou ainda mais. Poupou mais as crianças e os velhos (estes, sobretudo) e perseguiu muito mais as classes pobres. Houve muitas casas onde a infeção não poupou ninguém… Houve casos de reincidência, mas também houve engripados da primeira invasão que escaparam à segunda. Não se notou em regra que os atacados pela espanhola escapassem à pneumónica, sobretudo os afetados pela forma abdominal durante a primeira invasão.

Em todo o concelho calipolense assinalaram-se entre 3500 a 4000 casos de influenza de todas as formas, com um obituário de 151 indivíduos em Setembro, 150 em Outubro e 15 em Novembro.

 Estes números porém não foram rigorosamente precisados pelo Dr. Couto Jardim, dadas as dificuldades inerentes as todo o processo de registo. O Hospital da Misericórdia foi o local onde se efetuaram os registos e onde acudiam os mais necessitados de cuidados médicos.

As freguesias onde a doença maior mortalidade foram as rurais de São Romão e Bencatel, com 120 e 40 óbitos, aproximadamente, pois como referiu o Dr. Jardim, muitos casos que figuravam no registo civil sem assistência médica, tiveram-na na realidade, segundo as indagações a que o próprio procedeu e que pode verificar.

Estabeleceu-se então na Vila uma comissão central de assistência a epidemiados e famílias e em cada uma das freguesias uma subcomissão, as quais receberam da comissão de assistência distrital donativos do governo e produtos das subscrições públicas, assim como donativos de particulares em dinheiro e géneros.

Assim, foram socorridos de alimentação e medicamentos os doentes pobres que foram tratados nas suas casas, recebendo o Hospital da Misericórdia os que se hospitalizaram da classe civil, tendo sido tratados os militares numa pequena parte deste hospital e a grande maioria na enfermaria do regimento e outra que se instalou no Castelo de Vila Viçosa.

Fizeram-se desinfeções nas casas dos epidemiados e tratou-se com mais cuidado a habitual limpeza e saneamento das povoações. Os doentes foram isolados nas enfermarias, tanto quanto possível separados os pneumónicos dos casos simples e de outros casos septicémicos e híper-tópicos.

O serviço médico foi a princípio somente prestado pela subdelegação de saúde, a cargo do Dr. Couto Jardim. O serviço farmacêutico foi desempenhado pelas farmácias da localidade (Torrinha, Monte e Misericórdia) e embora muito assoberbadas pelo trabalho, satisfizeram inteiramente a sua missão, não tendo havido falta de medicamentos, como em muitas outras regiões do país.

 Na freguesia de São Romão, que foi a de maior mortalidade, instalou-se devido à grande distância que a separa da sede de concelho, um pequeno posto farmacêutico e uma cozinha económica, de que tomou a iniciativa e o encargo um proprietário local, António Augusto de Matos Costa, com o curso de farmácia e que excelentes serviços prestou, quer como boticário, quer como enfermeiro.

A extrema pobreza e a falta total de recursos desta freguesia, a grande distância e os péssimos caminhos que a ligavam aos centros mais importantes foram a principal causa de tão grande morbilidade e mortalidade (a maior de todas do concelho), valendo-lhe muito os belos serviços prestados por este benemérito local. As duas associações de socorros mútuos estabelecidas na vila prestaram também ótimos serviços, não faltaram nunca aos seus associados quer com assistência médica, quer com subsídios pecuniários e de farmácia.

Couto Jardim foi um “cruzado “na luta contra este “infiel”, tendo perdido muitas das suas batalhas, mas sempre com uma grande determinação em ajudar os doentes que padeceram deste mal que assolou Vila Viçosa, pela primeira vez em território nacional.



FONTES MANUSCRITAS


AHMVV – Documentação da Subdelegação de Saúde de Vila Viçosa, - Livro iniciado em Julho de 1917


AHMVV – Questionário sobre a Influenza da Gripe em 1918