No Castelo de Vila Viçosa, com o Santuário da Padroeira de Portugal, ao fundo, início do século XX (?)
Foto: Arquivo Municipal de Lisboa
No Castelo de Vila Viçosa, com o Santuário da Padroeira de Portugal, ao fundo, início do século XX (?)
Foto: Arquivo Municipal de Lisboa
Pela
porta de Estremoz, no Castelo de Vila Viçosa, na atual Praça Infante de
Lacerda, encontrava-se outrora o TERREIRO DE D. JOÃO, que era dominado pelo
Paço de D. Fernando de Eça e do seu filho D. João de Eça, alcaides-mores de
Vila Viçosa no início do século XVI. Foram ambos elementos da corte do quarto
Duque de Bragança, D. Jaime.
O primeiro participou na conquista de Azamor,
em 1513, na sequência da qual recebeu a Ordem de Cristo. O segundo alcançou
grandes feitos na Índia, para onde embarcou em 1527, recebendo como mercê a
capitania de Cananor.
D. João
foi incumbido pelo cunhado Lopo Vaz de Sampaio (casado com D. Leonor de Eça) de
vigiar a costa de Calicute, onde aprisionou 50 embarcações carregadas de
especiarias, tomou e saqueou Mangalor, mas perdeu a batalha naval de Cutiale.
Esta
grande casa em Vila Viçosa, que alcançava a antiga Rua do Chafariz, compreendeu
mais tarde o corpo habitado por D. Pascoela de Gusmão, camareira da Duquesa D.
Catarina, em 1580. Era filha de D. Vasco Coutinho (neto do 1º Conde de
Marialva) e de D. Joana de Eça.
Foi esta
dama que originou a designação da Rua da Pascoela.
O Paço
prolongava-se por esta artéria (nº 4-6), com o seu prospeto de dois pisos e
janelas de mármore.
Com a frente setentrional integrada num pátio discreto, talvez outrora jardim, com arco pleno de alvenaria, no corpo alto, subsiste uma elegante galeria de três arcadas de meio ponto, apoiadas em colunelos da ordem dórica, de mármore, presentemente obstruídos.
Trata-se de uma obra de meados do século XVI.
Nesta
casa existiu, durante longos anos, uma rara escultura de mármore, representando
em busto, uma deusa da antiguidade, com rosto sorridente, longos cabelos e
roliços seios, que o Padre Espanca considerou Vénus ou uma das Graças da
Mitologia grega e que o povo calipolense cognominou Pascoela.
ESPANCA,
Túlio, Inventário Artístico de Portugal – Distrito de Évora, Academia Nacional
de Belas Artes, Lisboa, 1978, p. 717
Este bebedouro,
localizado no Terreiro do Paço, junto à “Janela de Lisboa”, foi construído no
ano de 1772, por ordem do Rei D. José, não somente para uso público, mas
principalmente para nele beberem as manadas de cavalos da Coudelaria de Alter,
quando vinham pastar nas coutadas da Casa de Bragança.
Estava situado junto do
muro do Jardim do Bosque, por debaixo da “Casa de Lisboa”. Era abastecido por
nascentes provenientes da “Ilha”, tendo sido bastante utilizado durante o período
em que as unidades de Cavalaria do Exército Português (Regimento de Cavalaria 3
e Escola Prática de Cavalaria) estiveram no Mosteiro de Santo Agostinho (atual
Seminário Menor da Arquidiocese de Évora), ao longo do século XIX.
Foi seu construtor o pedreiro
calipolense José Mendes Brochado, um dos mais engenhosos mestres de cantaria da
região, no século XVIII. A sua longa taça alteada, de mármore lavrado, tinha
capacidade para 50 cavalos. Foi demolido em 1939/40. Somente sobreviveram as
três gárgulas, que ainda lá se encontram.
Foto – Arquivo Municipal
de Lisboa
Na Rua
Luís Casadinho, antigamente designada Carreira das Nogueiras, encontramos um
curioso edifício arcaico. Trata-se da antiga Ouvidoria da Casa de Bragança,
construída em 1608, para residência de Domingos Álvares Leitão, desembargador
do 7º Duque de Bragança, D. Teodósio II. O ouvidor era o magistrado que
superintendia a justiça nos territórios senhoriais, neste caso, da Casa de
Bragança.
Em 1791,
por decreto régio, foram extintas as Ouvidorias e os cargos ocupados pelos corregedores,
motivo pelo qual o velho palácio passou a ser conhecido como CORREGEDORIA.
O
corregedor era o magistrado administrativo e judicial que representava a Coroa,
em cada uma das comarcas do país.
No dia 22
de dezembro de 1836, a Casa de Bragança cedeu o edifício para nele se instalar,
no primeiro piso, o TEATRO CALIPOLENSE e arrendou o piso térreo para diversas
funções (armazenamento e apoio a atividades agrícolas)
O TEATRO
CALIPOLENSE funcionou no edifício até ao ano de 1858. Na porta principal, ainda
hoje está visível o monograma coroado DB (Ducado de Bragança), a indicar a
posse do imóvel DB.
A fachada
principal apresenta o carácter arquitetónico do século XVII. O edifício sofreu
alguma ruína com o terramoto de 1755.
BIBLIOGRAFIA
ESPANCA,
Túlio, Inventário Artístico de Portugal – Distrito de Évora, Zona Sul, vol. I,
Academia Nacional de Belas Artes, Lisboa, 1978.
TRADIÇÕES
ANTIGAS DE VILA VIÇOSA
AS
“VAQUINHAS” DE SÃO LUÍS
No
Largo dos Capuchos, encontra-se a Ermida de São Luís, datada provavelmente do
século XVI.
Nas
suas imediações, decorria uma festa que tinha lugar no primeiro domingo de
Setembro, antecedendo as tradicionais Festas dos Capuchos. Os almocreves,
lavradores e hortelões de Vila Viçosa iam sempre levar as fogaças de fruta e as
esmolas em homenagem a São Luís.
Tinha
lugar uma missa cantada durante a manhã e a Filarmónica marcava presença.
Durante a tarde, tinha lugar a “vaquinha”, que não era mais do que uma tourada
à vara larga. Apesar de se chamar “vaquinha”, o animal toureado à corda era
sempre um novilho com dois ou três anos.
No
ano de 1825, foram acrescentadas umas casas anexas à sacristia, que passariam a
funcionar como bazar para se venderem as fogaças. Isto porque no ano anterior a
“vaquinha” investiu contra a mesa das ditas fogaças, partindo a corda que a
prendia, obrigando os confrades a saltar o muro da horta.
Na
casa das fogaças distribuíam-se bolinhos redondos e chatos semelhantes às
modernas bolachas, a quem entregava fogaça ou boa esmola em dinheiro. Outros
ofereciam fogaças de frutos ou frangos, que os rapazes apregoavam em voz alta.
No
ano de 1858, formou-se uma varanda na parte superior da sacristia, para que a
Juíza, a Escrivã e a Tesoureira da Confraria de São Luís pudessem assistir
dali, mais seguras, à “vaquinha”.
Este
divertimento tinha grande adesão no século XIX. Dizem as crónicas que os
lavradores e rapaziada mais nova não faltavam à festa e os mais corajosos
atreviam-se a tourear com lenços e cintas encarnadas. Outros combinavam-se e
avançavam para as pegas.
Algumas
vezes, arremetia a “vaquinha” contra os que seguravam a comprida corda,
originando alguns sustos e pontuais ferimentos.
Em
Setembro de 1931, existem registos de que a festa das “vaquinhas de São Luís”
ainda se realizava.
Bibliografia
ESPANCA,
Padre Joaquim José da Rocha, Memórias de Vila Viçosa, 36 cadernos,
Câmara Municipal de Vila Viçosa, Vila Viçosa, 1983 – 1992.
ESPANCA,
Túlio, Inventário Artístico de Portugal – Distrito de Évora, Zona Sul,
vol. I, Academia Nacional de Belas Artes, Lisboa, 1978.
VILA VIÇOSA, final do século XIX
FEIRA DE AGOSTO EM VILA VIÇOSA
A Feira de Agosto teve a sua
origem provavelmente no século XVI, mais precisamente em 1528, por iniciativa do
quarto Duque de Bragança D. Jaime e com autorização régia.
A sua localização inicial foi na
envolvente do Terreiro do Paço e do Terreiro dos Agostinhos. Em meados do
século XIX, os ajuntamentos de feirantes passaram para o Carrascal e para o
Rossio de São Paulo.
Esta
feira foi, em tempos, uma das maiores e mais concorridas do Alentejo no que ao comércio
de gado diz respeito. Paralelamente, constituía um local de comércio
para todo o tipo de mercadorias. Foram uma importante fonte de dinamização do
quotidiano económico e social do concelho.
Nesta
imagem do Arquivo Municipal de Lisboa, de finais do século XIX, podemos ver uma
“mulada”no Terreiro do Paço, sob o olhar atento de alguns potenciais
compradores, provavelmente a caminho da feira de Agosto.
Bibliografia:
ARAÚJO, Maria
Marta Lobo de, Dar aos pobres e emprestar a Deus: as Misericórdias de Vila
Viçosa e Ponte de Lima (Séculos XVI-XVIII), SCMVV, Barcelos, 2000.
Arquivo Municipal de Lisboa - PT-AMLSB-CMLSBAH-PCSP-004-NEG-000693
Nas “andanças”,
procurando estruturas subterrâneas de água em Vila Viçosa, as pesquisas
levaram-me hoje até à Quinta da Vassoura, situada no caminho para São Romão.
Foi aí que encontramos o Sr. Manuel Félix (85 anos), que nos contou um pouco da
história deste local:
“Água é
vida! E por haver em abundância em Vila Viçosa, é que os antigos aqui se
instalaram, há séculos!”
Na Quinta da
Vassoura existe uma contramina com uma nascente, cuja construção é de data
incerta (séculos XVI/XVII?). A base do outeiro foi escavada, com perfuração do
xisto, até à zona da nascente:
“Os mais
velhos que aqui viviam e que ainda conheci na minha infância, sempre falaram nesta
nascente aqui!
Seja verão
ou inverno, a água brota das entranhas da terra, circulando outrora por um
engenhoso sistema detalhado pelo Sr. Manuel Félix, que a conduzia até à zona da horta, com recurso à lei da gravidade.
São tantas as histórias que ficamos de voltar a conversar!
Zona interior da contramina, onde se encontra a nascente de água
Sr. Manuel Félix (85 anos) , explicando o engenhoso sistema de circulação de água
Contramina - zona exterior
Contramina, no período de verão
Zona interior da contramina
Final do
século XIX
Ao fundo, ao
centro, o antigo Largo da Saboaria (actual Largo Mariano Prezado). As feiras em
Vila Viçosa realizavam-se neste local, no prolongamento do terreiro de Santo
Agostinho, desde o século XVI até meados do século XIX.
Era aqui que
estava localizada a fábrica de sabão da vila.
Do lado direito,
o Paço dos Caminhas, alcaides-mores de Vila Viçosa, edifício que pertence
atualmente à Fundação da Casa de Bragança.
No primeiro
plano, do lado esquerdo, o Mosteiro de Santo Agostinho (século XIII) , que foi
utilizado depois da extinção das Ordens Religiosas em 1834 como aquartelamento
militar, tendo acolhido os Caçadores 6 (1844), Regimento de Cavalaria 3 (1848),
Escola Prática de cavalaria em 1890 e Regimento de Infantaria 16, entre 1937 e
1939.
Logo depois,
a Igreja de Nossa Senhora da Graça, Panteão dos Duques de Bragança.
Na imagem,
os soldados estão à conversa com o povo, por entre as vacas, as mulas e os porcos.
A fotografia foi registada a partir da célebre “Janela de Lisboa”, na continuação do Jardim do Bosque.
©Arquivo Municipal de Lisboa - PT-AMLSB-CMLSBAH-PCSP-004-NEG-001036
Vila Viçosa, final do século XIX
Quando os borregos que sobreviveram à Páscoa ainda pastavam
no Terreiro do Paço…
© Arquivo Municipal de Lisboa - PT-AMLSB-CMLSBAH-PCSP-004-NEG-000819
CALLIPOLE SUBTERRÂNEA
No adro da primitiva frontaria da Igreja de Nossa Senhora da Graça (mais conhecida como Igreja dos Agostinhos), no lado sul do antigo Terreiro dos Agostinhos, encontra-se um formoso cruzeiro de mármore branco, assente em placa e degraus da mesma pedra, peanha em losango floral e um fuste estriado em dois sectores, do estilo coríntio.
CRUZEIRO DA HORTA DA CRUZ
- Paço dos Matos Azambuja - Casa dos Arcos (lado esquerdo)