sexta-feira, 10 de maio de 2019

VILA VIÇOSA E A “GRIPE ESPANHOLA”


Precisamente há cento e um anos atrás, Vila Viçosa foi assolada por um trágico acontecimento, provavelmente desconhecido para a maioria dos atuais Calipolenses.
Em meados de Maio de 1918, é identificado em Vila Viçosa o primeiro caso no nosso país da Gripe Espanhola, designação vulgarmente atribuída à Gripe Pneumónica.

O vírus foi trazido para o concelho de Vila Viçosa, precisamente de Espanha, por trabalhadores rurais que faziam na altura campanhas agrícolas em Badajoz e Olivença. A pandemia ficou por isso também conhecida como a “Senhora Espanhola”.

Este fenómeno veio de certa forma reavivar o velho ditado que afirmava que de Espanha, “nem bom vento, nem bom casamento”, numa velha alusão ao vento suão e aos casamentos reais.
O primeiro caso registado da doença em Portugal foi precisamente aqui. O regresso a casa desses trabalhadores sazonais calipolenses foi determinante para a expansão da doença. A freguesia de Ciladas/São Romão foi a mais afetada pelo vírus, que devastou dezenas de vidas.

Um notável médico calipolense, João Augusto do Couto Jardim, foi um lutador incansável contra a doença, prestando apoio médico às vítimas de forma incondicional e gratuita. Para acudir aos doentes de São Romão, fez vezes sem conta o caminho para a freguesia (que dista onze quilómetros da sede do concelho) a pé, de burro ou em carro de mula.

A partir de Vila Viçosa, verificou-se uma disseminação rápida da doença. As precárias condições de vida que afetavam a maioria da população, a generalizada ausência de condições de higiene, a insuficiência dos serviços de saúde, a falta de médicos e a falta de medicamentos foram os fatores que contribuíram para a propagação da Gripe Espanhola por todo o país. Curiosamente, os casos mais graves e mortais foram sobretudo na população jovem. Os principais sintomas eram as manchas castanhas no corpo e a pele em tons azulados, juntamente com as febres altas e as dificuldades respiratórias.

Existem no entanto várias dúvidas sobre a verdadeira proveniência geográfica do vírus. Com provável origem na Ásia, os primeiros casos na Europa são identificados nas tropas francesas em 1918, no decurso da I Guerra Mundial, eventualmente contaminados por auxiliares chineses contratados para apoio aos Aliados. Uma outra teoria defende que o vírus terá começado nos Estados Unidos e fora trazido pelas tropas americanas para a Europa, no decurso do conflito.

No total, registaram-se cerca de 40 milhões de mortes em todo o mundo, das quais entre 50 mil a 70 mil em Portugal.





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