Neste
local, ainda existente, mas em ruínas, a cerca de 4 km de Vila Viçosa (próximo
dos muros da Tapada Real), foi criado, em 1636, um Moinho de Papel, a expensas
do 8º Duque de Bragança, D. João II (futuro Rei D. João IV, o primeiro da
dinastia brigantina).
Terá sido
um dos primeiros engenhos para a produção de papel na Península Ibérica. Para o
seu funcionamento, o Duque contratou um mestre, Francisco Ortiz de Montesinhos
e quatro oficiais. O papel aí produzido destinava-se à administração da Casa de
Bragança.
O oitavo
Duque de Bragança interessou-se por diversas atividades, nomeadamente a
produção de vidro e a livraria musical, dedicando também a sua atenção ao papel
e à tipografia, chegando mesmo a ser impressos dois livros em Vila Viçosa (um
no próprio Paço Ducal). Para o efeito, mandou vir de Évora o impressor Manuel
de Carvalho de modo a compor e a imprimir em papel francês as referidas obras.[1]
Este
facto é revelador do interesse do Duque de Bragança pela arte impressora,
talvez a pensar na livraria de música, famosa desde a sua época, e também no
próprio papel, suporte inquestionável para este fim e para a administração da
Casa de Bragança[2].
O moinho
era um edifício imponente (22,5 x 9,5 metros), sendo ainda hoje visíveis as paredes
altas (três pisos) e está situada na zona de confluência das Ribeiras de Borba
e do Beiçudo.
Tem uma
orientação este/oeste e, no lado norte, no ponto de chegada de um aqueduto,
existe uma grande cuba de alvenaria. Daí a água passava, ao longo da parede,
indo mover a roda do engenho de modo a fazer trabalhar os martelos do pilão.
No piso
térreo, onde existia o podridor (local para deixar apodrecer o trapo),
retalhava-se e lavava-se o referido material, fazia-se a pasta e limpavam-se os
feltros ou as baetas. No primeiro andar, procedia-se à feitura das folhas com
as formas e à prensagem do papel dentro das baetas, para escorrer o resto da
água[3].
A
operação de colocar o papel dentro da tina da cola decorria novamente no
rés-do-chão, mas a secagem na zona de espande, ou seja, no segundo andar, onde
existiam cinco janelas de cada lado e mais três à frente, que permitiam arejar
e secar bem o papel. Talvez ainda nessa zona, ou no primeiro andar, se
procedesse ao acabamento, através da operação de brunir, alisar e fazer as
resmas.[4]
A partir
do Inverno de 1640, na medida em que o oitavo Duque foi aclamado Rei de
Portugal, a atividade do Moinho de Papel foi diminuindo.
Muito do
que existia no Paço Ducal seguiu para a corte de Lisboa, nomeadamente o arquivo
e a livraria de música[5].
Em 1999,
a Câmara Municipal de Vila Viçosa, através do Gabinete Técnico Local, sob a
direção do Arquiteto Cuba Ramalho, desenvolveu um excelente trabalho sobre a
arquitetura da Água em Vila Viçosa.
No concerne ao Moinho de Papel, foi editado,
numa investigação de muita qualidade, um desdobrável em cartolina com uma
reconstituição dos alçados, cortes e plantas do engenho, bem como uma nota
explicativa, com fotografias e gravuras.[6]
Trata-se
de mais um exemplo de património em avançado estado de degradação, que seria
urgente recuperar, tendo em conta a sua importância histórica. Sendo uma
propriedade privada, creio que poderiam ser desenvolvidos esforços pelas entidades
competentes para a aquisição da Courelinha do Moinho de Papel e reabilitação do
edifício.
Tendo em
conta o trabalho já realizado, penso que seria conveniente avançar para a
classificação deste imóvel enquanto Património de Interesse Municipal, conforme
proposta de 2007 apresentada pelo Dr. João Ruas.
Porque
não criar aqui um centro interpretativo, com a recuperação dos espaços e
funções referidas, que mostrasse ao visitante como era feita a produção de
papel no século XVII, através de uma demonstração da evolução técnica e das operações
utilizadas para este efeito.
A criação
de uma parceria entre o Município, a Fundação da Casa de Bragança e o
proprietário poderia ser a base de um projeto para a reabilitação deste espaço
histórico.
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