As
origens do Forte do Conde (nome pelo qual a Herdade do Forte do Ferragudo é
amplamente conhecida) remontam ao tempo do capitão de cavalos André Mendes
Lobo, que nela se estabeleceu, pela sua importância agrícola e populacional,
durante as Guerras da Restauração (século XVII).
Pela sua
localização geográfica, próxima da fronteira com Espanha, foi aqui estabelecida
uma cortina fortificada, obra militar de feição precária, mas guarnecida por
milicianos. Tinha ainda como função a proteção de manadas de cavalos reais que
pastavam na região, tendo em conta que a propriedade confinava com o Reguengo
do Fatalão, propriedade da Casa de Bragança.
Em Junho
de 1662, na primeira campanha do Príncipe espanhol D. João de Áustria, toda
esta incipiente obra defensiva sofreu um arrasamento total. Mais tarde, em
1667, estando por firmar a Paz Geral entre Portugal e Espanha, um contingente
de cavalaria da praça de Badajoz, de forma inesperada, levou um número muito
considerável de cavalos, que não puderam ser recuperados.
No ano de
1670, sendo propriedade do capitão de cavalos Ambrósio Pereira de Berredo e
Castro, pelo seu matrimónio com D. Maria Lobo da Silveira, filha do
instituidor, nela se edificou uma Ermida dedicada a Nossa Senhora dos Remédios,
para recolher a célebre imagem que seu avô, D. Francisco Lobo (capitão-mor da
Esquadra da Índia, comandada pelo Vice-Rei D. Francisco da Gama, que se bateu
gloriosamente contra os Holandeses em Moçambique, em 1622).
Esta
imagem foi concebida em Lisboa em 1587 e ficou depositada ao culto, durante
muitos anos, na Sé de Goa.
Ambrósio
Pereira, que morreu sendo Governador da Ilha de São Tomé, deixou a propriedade
do Forte do Ferragudo a sua filha D. Joana Vicência de Meneses, que casou com
Bernardim Freire de Andrade e de cujo enlace nasceram 20 filhos. O mais famoso
de todos foi Gomes Freire de Andrade, governador e capitão-general do Brasil,
por nomeação de D. João V, em 1733.
O
edifício da Ermida teve como tracista o mestre-de-obras Lázaro Moniz,
empreiteiro de Vila Viçosa. A nave possui planta retangular, mantém a estrutura
da data de fundação, distribuindo-se em proporções muito harmoniosas, com coro
e capela-mor de arco pleno. No seu interior podemos também encontrar silhares
de azulejos policromos, do modelo de tapete naturalista, de fatura lisbonense e
datáveis do séc. XVII. Possui também um púlpito de caixa quadrada e a grade
divisória do presbitério do mesmo período histórico.
A
designação de Forte do Conde vem do reinado de D. José (século XVIII) e
prolongou-se até à atualidade, apesar do alienamento da propriedade se ter
verificado depois de 1867, após a morte da última donatária fidalga, D. Maria
Isabel Freire de Andrade e Castro, viúva do seu tio paterno Bernardim Freire de
Andrade e Castro, representante dos últimos Condes da Bobadela, senhora que
faleceu sem geração e que legou os seus bens a corporações religiosas.
Esta
herdade fica situada a 3 quilómetros de São Romão, na estrada que faz a ligação
a Juromenha e tem cerca de 900 hectares.
BIBLIOGRAFIA
ESPANCA,
Padre Joaquim José da Rocha, Memórias de Vila Viçosa, 36 cads., Câmara
Municipal de Vila Viçosa, Vila Viçosa, 1983 – 1992.
Idem, Compêndio
de notícias de Villa Viçosa: província do Alentejo, Typ. De Francisco de Paula
Oliveira Carvalho, Redondo, 1892 (HG 13830 V.)
ESPANCA,
Túlio Inventário Artístico de Portugal – Distrito de Évora, Zona Sul, vol. I,
Academia Nacional de Belas Artes, Lisboa, 1978.
Magnífica informação, sobretudo, para quem, como eu, ali cresceu...vendo, embora que muito pequenino ainda, a labuta dos muitos "ganhões" que ali se governavam, por volta dos anos 65 e seguintes. O meu avô materno, trabalhou para esta casa durante muitos anos. Foi na sua companahia que ai vivi parte da minha infância, enquanto ele apascentava as ovelhas do Senhor. Mais tarde, os meus pais, também ai trabalharam, mas já por conta de uma sociedade agrícola de nome, salvo erro, Sagrepe, que tinha sede na cidade de Elvas.Dava para ver que, em anos passados, a lide seria ainda muito mais intensa e de número maior.
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