sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

O FORTE DO CONDE, EM SÃO ROMÃO

As origens do Forte do Conde (nome pelo qual a Herdade do Forte do Ferragudo é amplamente conhecida) remontam ao tempo do capitão de cavalos André Mendes Lobo, que nela se estabeleceu, pela sua importância agrícola e populacional, durante as Guerras da Restauração (século XVII).

Pela sua localização geográfica, próxima da fronteira com Espanha, foi aqui estabelecida uma cortina fortificada, obra militar de feição precária, mas guarnecida por milicianos. Tinha ainda como função a proteção de manadas de cavalos reais que pastavam na região, tendo em conta que a propriedade confinava com o Reguengo do Fatalão, propriedade da Casa de Bragança.

Em Junho de 1662, na primeira campanha do Príncipe espanhol D. João de Áustria, toda esta incipiente obra defensiva sofreu um arrasamento total. Mais tarde, em 1667, estando por firmar a Paz Geral entre Portugal e Espanha, um contingente de cavalaria da praça de Badajoz, de forma inesperada, levou um número muito considerável de cavalos, que não puderam ser recuperados.

No ano de 1670, sendo propriedade do capitão de cavalos Ambrósio Pereira de Berredo e Castro, pelo seu matrimónio com D. Maria Lobo da Silveira, filha do instituidor, nela se edificou uma Ermida dedicada a Nossa Senhora dos Remédios, para recolher a célebre imagem que seu avô, D. Francisco Lobo (capitão-mor da Esquadra da Índia, comandada pelo Vice-Rei D. Francisco da Gama, que se bateu gloriosamente contra os Holandeses em Moçambique, em 1622).
Esta imagem foi concebida em Lisboa em 1587 e ficou depositada ao culto, durante muitos anos, na Sé de Goa.

Ambrósio Pereira, que morreu sendo Governador da Ilha de São Tomé, deixou a propriedade do Forte do Ferragudo a sua filha D. Joana Vicência de Meneses, que casou com Bernardim Freire de Andrade e de cujo enlace nasceram 20 filhos. O mais famoso de todos foi Gomes Freire de Andrade, governador e capitão-general do Brasil, por nomeação de D. João V, em 1733.

O edifício da Ermida teve como tracista o mestre-de-obras Lázaro Moniz, empreiteiro de Vila Viçosa. A nave possui planta retangular, mantém a estrutura da data de fundação, distribuindo-se em proporções muito harmoniosas, com coro e capela-mor de arco pleno. No seu interior podemos também encontrar silhares de azulejos policromos, do modelo de tapete naturalista, de fatura lisbonense e datáveis do séc. XVII. Possui também um púlpito de caixa quadrada e a grade divisória do presbitério do mesmo período histórico.

A designação de Forte do Conde vem do reinado de D. José (século XVIII) e prolongou-se até à atualidade, apesar do alienamento da propriedade se ter verificado depois de 1867, após a morte da última donatária fidalga, D. Maria Isabel Freire de Andrade e Castro, viúva do seu tio paterno Bernardim Freire de Andrade e Castro, representante dos últimos Condes da Bobadela, senhora que faleceu sem geração e que legou os seus bens a corporações religiosas.



Esta herdade fica situada a 3 quilómetros de São Romão, na estrada que faz a ligação a Juromenha e tem cerca de 900 hectares.

 BIBLIOGRAFIA

ESPANCA, Padre Joaquim José da Rocha, Memórias de Vila Viçosa, 36 cads., Câmara Municipal de Vila Viçosa, Vila Viçosa, 1983 – 1992.
Idem, Compêndio de notícias de Villa Viçosa: província do Alentejo, Typ. De Francisco de Paula Oliveira Carvalho, Redondo, 1892 (HG 13830 V.)

ESPANCA, Túlio Inventário Artístico de Portugal – Distrito de Évora, Zona Sul, vol. I, Academia Nacional de Belas Artes, Lisboa, 1978.

1 comentário:

  1. Magnífica informação, sobretudo, para quem, como eu, ali cresceu...vendo, embora que muito pequenino ainda, a labuta dos muitos "ganhões" que ali se governavam, por volta dos anos 65 e seguintes. O meu avô materno, trabalhou para esta casa durante muitos anos. Foi na sua companahia que ai vivi parte da minha infância, enquanto ele apascentava as ovelhas do Senhor. Mais tarde, os meus pais, também ai trabalharam, mas já por conta de uma sociedade agrícola de nome, salvo erro, Sagrepe, que tinha sede na cidade de Elvas.Dava para ver que, em anos passados, a lide seria ainda muito mais intensa e de número maior.

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