Lugar de
memórias distantes, o antigo Convento de São Paulo converteu-se numa unidade
fabril na primeira metade do século XX. A SOFAL (Sociedade Fabril Alentejana)
foi numa referência social e económica durante largas décadas. Quase uma
“cidade industrial” no coração de Vila Viçosa!
Hoje, o edifício é uma sombra do passado, mas com um enorme potencial por explorar. O regresso a esses dias de azáfamas e rotinas, por entre os cereais e o azeite, foi possível graças às descrições de Francisco José das Neves, que aqui passou 40 dos seus 93 anos de existência.
Hoje, o edifício é uma sombra do passado, mas com um enorme potencial por explorar. O regresso a esses dias de azáfamas e rotinas, por entre os cereais e o azeite, foi possível graças às descrições de Francisco José das Neves, que aqui passou 40 dos seus 93 anos de existência.
Essa “antropologia” de vivências e de rotinas de trabalho deu, momentaneamente, nova vida à SOFAL! Os testemunhos foram detalhados e até comoventes… Um património que poderia ser a plataforma de imensos projetos culturais, de modo a promover a identidade local e a permitir o uso do antigo edifício…
Os Eremitas de
São Paulo da Serra de Ossa instalaram-se no Alto Alentejo a partir da segunda
metade do século XIV, e em pouco mais de um século, entre 1366 e finais de
Quatrocentos, instalaram na diocese de Évora mais de uma dezena de eremitérios.
O ermitério de Vila Viçosa foi fundado em 1416, passando alguns anos mais tarde
a convento regular. A partir de 1482, a congregação era já regida por um provincial.
Cerca de um século mais tarde, em 1585, recebeu a designação de Nossa Senhora
do Amparo, sendo já esta comunidade a fundar um novo convento, cuja igreja
seria inaugurada em 1613.
Após a extinção das ordens religiosas masculinas, em 1834, o edifício, totalmente espoliado do seu recheio, funcionou primeiro como teatro e depois como quartel, tendo ainda abrigado serviços municipais. Em 1921 foi vendido à SOFAL (Sociedade Fabril Alentejana), que aí instalou uma refinaria de azeite e uma moagem de farinha. Durante o seu período de laboração, a então denominada Fábrica de São Paulo tornou-se um marco importante na vila, dando emprego a muitos habitantes. Está hoje em dia devoluta, e em acentuado estado de degradação[1].
Nos idos anos 70 do século XX, a SOFAL começou a entrar numa lenta decadência. Ainda assim, fornecia a distribuição de energia elétrica às pedreiras e ao concelho de Vila Viçosa, funcionava como moagem de trigo e embalamento de farinhas, que eram distribuídas e comercializadas por todo o Alentejo; lagar e refinaria de azeites e óleos, com o posterior processo de engarrafamento. Tinha também anexas oficinas de serralharia mecânica, carpintaria e mecânica automóvel. Tinha também silos para armazenamento de cereais, que depois eram moídos. Recebia também azeitona proveniente de toda a região Alentejo. Segundo os antigos funcionários, foi das primeiras empresas do país a reformar os funcionários aos 55 anos[2].
Recuperar essa
memória industrial e conservar as estruturas originais que restam do antigo
convento, poderia permitir a criação de um espaço museológico, com diversas
valências. O edifício “fala” por si. Com a associação de histórias relacionadas
com as atividades fabris, poderia ser criado um discurso expositivo que
recuperasse os processos produtivos e o modo de funcionamento dos diferentes
sectores. Este poderia ser um projeto inovador em termos locais e uma futura
alavanca de desenvolvimento para o futuro, com base na reabilitação dos
diferentes espaços.
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