Ainda
hoje, em muitas regiões portuguesas se celebram as festas populares e
tradicionais do “Maio Moço”. Em Vila Viçosa, até meados do século XX, tinha
lugar o culto naturalista das “Maias”, que variava das restantes no que
concerne aos ritos e às indumentárias.
Nestas
celebrações, várias crianças eram enfeitadas com variadas flores, entre as
quais as giestas tinham um papel preponderante. O cronista Lopes Manso, em
1928, considerou que as “Maias” calipolenses eram as festas com maior variedade
decorativa, pelas circunstâncias que acompanhavam a celebração.
No primeiro dia de Maio, surgiam em Vila
Viçosa vários grupos de “Maias”, que enchiam a localidade de alacridade e
beleza, festejando tão decorativa e regionalista tradição.
Cada
grupo era composto por uma criança – a “Maia”, ladeada por outras duas, na
maior parte das vezes de maior idade, agregando-se posteriormente ao grupo um
maior número de elementos, no desejo de fazerem séquito à rainha da festa ou só
por natural curiosidade.
A criança
que simbolizava a “Maia” era sempre escolhida entre as mais educadas e a sua
idade oscilava entre os cinco e os dez anos. Era vestida de branco pelas
senhoras da casa onde se formava o grupo, que lhe colocavam na cabeça grinaldas,
coroas, ou capelas de flores, entrelaçadas com raminhos de giesta florida. O
seu vestido era polvilhado de rosas, cravos, dedaleiras, cravalhetas, lírios brancos
ou roxos, tudo matizado de folhagens verdes, sendo completada a ornamentação
com fios e cordões de ouro, braceletes, brincos e anéis. Surpreendia e
encantava o efeito das juvenis “maias”, adornadas desta arte, com policromias áureas
e florescências rescendentes.
Algumas “Maias”,
para além das flores que levavam pregadas nos vestidos e das ornamentações na
cabeça, iam envolvidas em cordas ou rosários de malmequeres e margaridas,
adornos que lhe davam um aspeto ainda mais original.
Duas
crianças, em geral de maior idade que a “Maia”, levavam esta pela mão, uma de
cada banda, com uma bandeja na mão livre, para a recolha das quantias que
pediam e angariavam por toda a vila. No final da tarde, terminada a missão
festeira, a “Maia” voltava a casa para retirar os adornos e para repartir irmãmente
os ganhos em três lotes: um para a “Maia” e os dois restantes para as aias.
No mesmo
dia, muitas “Maias” percorriam todo o perímetro de Vila Viçosa. Cada grupo
queria apresentar a sua representante da melhor forma possível, com o objetivo
de conquistar o maior número de aplausos e louvores da população do burgo
calipolense.
As “Maias”
de Vila Viçosa tinham de particular e notável o facto de não só saírem no
primeiro de Maio, mas em todos os domingos e dias santificados do mês, como a
quinta-feira de Ascensão. Era, portanto, um espetáculo interessante e
policrómico que se via na localidade, durante sete ou oito dias, no período que
ia desde o primeiro ao dia 31 de Maio, período consagrado ao culto do “Maio
Moço”.
Os
curiosos e típicos grupos de “Maias” giravam por todas as ruas, largos e
travessas e entravam em todas as casas, lojas, restaurantes e estabelecimentos,
lançando sempre, em vozes melodiosas e angelicais, o seu clássico pregão
pedincheiro:
- DÊ
DINHEIRINHO À MAIA, QUE NÃO TEM SAIA!
Muitas
pessoas, especialmente nos estabelecimentos e nos lares, além de dinheiro,
ofereciam bolos, bolachas e rebuçados às simpáticas “Maias”, oferta que era agradecida
com mostras de grande regozijo. No decorrer dos peditórios, ocorriam, por
vezes, factos hilariantes e episódios cómicos que o público palmeava com calor.
Isso
acontecia especialmente quando um homem ou mulher, cavalheiro ou senhora, se
tentavam esquivar à súplica das “Maias” e deixavam de dar a sua contribuição
pecuniária. Eram tais as lamúrias dos “enxames” dourados e juvenis, que os renitentes
não tinham hipótese senão render-se às solicitações.
A festa
das “Maias” de Vila Viçosa era pois uma prática tradicional de muito brilho
decorativo.
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