terça-feira, 2 de maio de 2017

AS "MAIAS" CALIPOLENSES

Ainda hoje, em muitas regiões portuguesas se celebram as festas populares e tradicionais do “Maio Moço”. Em Vila Viçosa, até meados do século XX, tinha lugar o culto naturalista das “Maias”, que variava das restantes no que concerne aos ritos e às indumentárias.

Nestas celebrações, várias crianças eram enfeitadas com variadas flores, entre as quais as giestas tinham um papel preponderante. O cronista Lopes Manso, em 1928, considerou que as “Maias” calipolenses eram as festas com maior variedade decorativa, pelas circunstâncias que acompanhavam a celebração.

 No primeiro dia de Maio, surgiam em Vila Viçosa vários grupos de “Maias”, que enchiam a localidade de alacridade e beleza, festejando tão decorativa e regionalista tradição.

Cada grupo era composto por uma criança – a “Maia”, ladeada por outras duas, na maior parte das vezes de maior idade, agregando-se posteriormente ao grupo um maior número de elementos, no desejo de fazerem séquito à rainha da festa ou só por natural curiosidade.
A criança que simbolizava a “Maia” era sempre escolhida entre as mais educadas e a sua idade oscilava entre os cinco e os dez anos. Era vestida de branco pelas senhoras da casa onde se formava o grupo, que lhe colocavam na cabeça grinaldas, coroas, ou capelas de flores, entrelaçadas com raminhos de giesta florida. O seu vestido era polvilhado de rosas, cravos, dedaleiras, cravalhetas, lírios brancos ou roxos, tudo matizado de folhagens verdes, sendo completada a ornamentação com fios e cordões de ouro, braceletes, brincos e anéis. Surpreendia e encantava o efeito das juvenis “maias”, adornadas desta arte, com policromias áureas e florescências rescendentes.
Algumas “Maias”, para além das flores que levavam pregadas nos vestidos e das ornamentações na cabeça, iam envolvidas em cordas ou rosários de malmequeres e margaridas, adornos que lhe davam um aspeto ainda mais original.
Duas crianças, em geral de maior idade que a “Maia”, levavam esta pela mão, uma de cada banda, com uma bandeja na mão livre, para a recolha das quantias que pediam e angariavam por toda a vila. No final da tarde, terminada a missão festeira, a “Maia” voltava a casa para retirar os adornos e para repartir irmãmente os ganhos em três lotes: um para a “Maia” e os dois restantes para as aias.
No mesmo dia, muitas “Maias” percorriam todo o perímetro de Vila Viçosa. Cada grupo queria apresentar a sua representante da melhor forma possível, com o objetivo de conquistar o maior número de aplausos e louvores da população do burgo calipolense.
As “Maias” de Vila Viçosa tinham de particular e notável o facto de não só saírem no primeiro de Maio, mas em todos os domingos e dias santificados do mês, como a quinta-feira de Ascensão. Era, portanto, um espetáculo interessante e policrómico que se via na localidade, durante sete ou oito dias, no período que ia desde o primeiro ao dia 31 de Maio, período consagrado ao culto do “Maio Moço”.
Os curiosos e típicos grupos de “Maias” giravam por todas as ruas, largos e travessas e entravam em todas as casas, lojas, restaurantes e estabelecimentos, lançando sempre, em vozes melodiosas e angelicais, o seu clássico pregão pedincheiro:

- DÊ DINHEIRINHO À MAIA, QUE NÃO TEM SAIA!

Muitas pessoas, especialmente nos estabelecimentos e nos lares, além de dinheiro, ofereciam bolos, bolachas e rebuçados às simpáticas “Maias”, oferta que era agradecida com mostras de grande regozijo. No decorrer dos peditórios, ocorriam, por vezes, factos hilariantes e episódios cómicos que o público palmeava com calor.
Isso acontecia especialmente quando um homem ou mulher, cavalheiro ou senhora, se tentavam esquivar à súplica das “Maias” e deixavam de dar a sua contribuição pecuniária. Eram tais as lamúrias dos “enxames” dourados e juvenis, que os renitentes não tinham hipótese senão render-se às solicitações.


A festa das “Maias” de Vila Viçosa era pois uma prática tradicional de muito brilho decorativo.


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