REDE DE CONTRAMINAS DA QUINTA DAS VELHAS
1 - Chafariz do Santos
Dando continuidade aos trabalhos de identificação, estudo e valorização do património calipolense, uma equipa da CMVV deslocou-se ontem à Quinta das Velhas, com o intuito de proceder a uma avaliação mais detalhada de um complexo conjunto de galerias subterrâneas, com cerca de 2,5 km, concebidas na primeira metade do século XIX, que tinha como objetivo a condução e gestão de águas, desde a nascente até diferentes hidropontos.
Esta exploração, efetuada com a devida autorização dos proprietários e cumprindo as normas de segurança, só foi possível devido à descida dos níveis freáticos, ocorrida recentemente, o que proporcionou a descida às galerias através do designado Chafariz do Santos.
Em Agosto de 2024, os locais por onde passamos estavam completamente submersos.
Esta operação constituiu uma redescoberta de um engenhoso sistema de galerias subterrâneas, com vários túneis de cerca de 1,20m de altura e 60 cm de largura, escavados na rocha e com estruturas de alvenaria e abóbadas de tijoleira, semelhantes a outras existentes em diferentes pontos de Vila Viçosa. A condução das águas era utilizada com recurso à lei da gravidade, tendo em conta o declive existente desde a nascente.
Este sistema surge no Vale das Pegas, onde se encontra a nascente (a cerca de 2 km da Quinta das Velhas), passando pela nora, (de onde partem várias contraminas em diferentes direções), até ao Chafariz do Santos (de onde parte outra contramina provavelmente em direção ao Chafariz da Coutada, estando outra contramina barrada, devido a um possível deslizamento de terras). A designação de Chafariz do Santos surge devido ao nome do proprietário, Francisco António dos Santos, que concebeu esta rede, conforme referido, na primeira metade do século XIX.
No âmbito do projeto CALLIPOLE SUBTERRÂNEA, foram identificados até ao momento cerca de 30 estruturas com estas características, quer no centro histórico, quer na envolvente da localidade, que preconizam a existência de uma rede de armazenamento, condução e gestão de águas subterrâneas, datadas provavelmente dos séculos XVI, XVII, XVIII e XIX. Este estudo está integrado na proposta de candidatura de Vila Viçosa a Património Mundial da UNESCO.
Neste caso concreto e de acordo com a bibliografia consultada, a construção das contraminas da Quinta das Velhas, com a nascente a oeste no Vale das Pegas, originou um litigio entre diferentes proprietários, devido à gestão partilhada das águas subterrâneas e teve como consequência o desaparecimento de documentação municipal, nomeadamente algumas atas da Câmara, no período compreendido entre 1824 e 1837.
Estamos a proceder à elaboração do relatório mais detalhado sobre esta visita exploratória, de modo a poder estudar de forma mais objetiva a configuração deste conjunto de contraminas, localizadas a cerca de 3 km do centro histórico de Vila Viçosa.
A descida ao local foi efetuada pelo Chafariz do Santos, onde foram percorridos cerca de 70 metros, a 3 metros de profundidade, por entre uma população de morcegos, até à nora, onde se encontra uma torre de respiração (por onde efetuamos a saída) e de onde partem mais 3 contraminas, em diferentes direções.
Recordamos que estas construções foram efetuadas num período em que a tecnologia era rudimentar e utilizando poucos recursos, para além da força braçal para a escavação e consolidação dos túneis.
Agradecemos ao Eng.º Nuno Gonçalves, Pedro Pinheiro, Paulo Vinagre, Manuela Pernas, colaboradoras do Posto de Turismo de Vila Viçosa e D. Belém Sampaio o apoio dado a esta operação.
2 - Interior da contramina, entre o chafariz e a nora
3 - Torre de respiração da nora
4 - Nora da Quinta das Velhas
5 - Interior da contramina
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