quinta-feira, 16 de abril de 2020

FORNOS DE TELHA EM VILA VIÇOSA

FORNOS DE TELHA

Está comprovada, desde a Carta de Foral de 1270, emitida pelo Rei D. Afonso III, a existência de Fornos de Telha no termo de Vila Viçosa. Nesse documento, constata-se que os telheiros tinham que pagar um tributo ao monarca, que consistia numa décima parte resultante da venda dos seus artefactos. 

Neste período, grande parte dos fornos de telha estavam situados na zona da Fadraga, junto à Quinta de Peixinhos, a sul de Vila Viçosa. Nesses coutos, os telheiros podiam utilizar os barros e a lenha para os fornos, cuja abundância determinava a sua localização.

Em 1640, temos a notícia, através das "Memórias de Vila Viçosa", do Padre Joaquim Espanca, sobre o facto de terem sido multados sete "telhereiros" e obrigados a fazer à sua custa duas varas antes e duas varas depois da ponte da estrada ou azinhaga das vinhas da Coutada, devido ao facto de a terem danificado, com a excessiva extração de barro. Isto dá-nos a confirmação de que este ofício estava em franca atividade em meados do século XVII.

Em 1673, discutia-se a questão do combustível para os fornos de pão da vila e de telha e ladrilho na Fadraga, onde então estavam em atividade nove telheiros, quase todos fechados nesta data por falta de lenha para cozedura das fornadas. 

Para remediar esta falta, acordou então a Câmara em deixar incultos dois sesmos da Coutada dos Telheiros, mais precisamente o Vale dos Castanheiros e a Fonte de Cebola, a fim de terem os forneiros abundância de lenha e não levantarem a percentagem de pão e assim poderem os “telhereiros” e oleiros continuar no exercício das suas indústrias, fornecendo os seus artefactos por preço acessível tanto aos moradores do concelho de Vila Viçosa, como aos concelhos circunvizinhos. 

Nesse ano, a medida foi considerada como positiva, já que permitia a produção de lenha em terras pouco produtivas para outras culturas. Porém, esta deliberação de 20 de Janeiro foi posteriormente revogada a 28 de Julho de 1674.


Em 1679, no dia 17 de Junho, António Lopes é nomeado Juiz do ofício de "telheireiro".
Em 1699, voltou a colocar-se a questão do combustível para os fornos, questão discutida e remediada em 1673 por um período de um ano, em vista à oposição que fizeram os mesteres às medidas adotadas. Agora suscitava-se novamente a mesma questão porque os forneiros insistiam no levantamento de percentagem da “poia” alegando dificuldades que tinham em encontrar o mato necessário para o aquecimento dos fornos.
Nesse sentido, resolveu a Câmara na vereação de 19 de Setembro demarcar algumas áreas da coutada do Vale dos Castanheiros para a parte do Monte Branco, de modo a ficarem incultos, visto serem terras menos produtivas, o que se observou como consta na vereação de 18 de Setembro do ano seguinte. Esta medida era mais modesta e equitativa do que a primeira de 1673 e por isso não encontrou oposição por parte do povo.

No início do século XIX, esta actividade entrou em crise no concelho de Vila Viçosa, sobretudo devido ao deficit de material combustível para aquecimento dos fornos.

Em 1836, com o aforamento geral das Coutadas, mais grave se tornou a questão das lenhas facultadas a telheiros e forneiros de pão e o resultado foi a necessidade de importação de fora do concelho de Vila Viçosa da maior parte da telha e do ladrilho necessários para o consumo no território.
 Depois de funcionarem com interregnos durante alguns anos, os três telheiros existentes na Fadraga durante o início do século XIX, coziam as fornadas com o mato das testeiras das fazendas sitas nas azinhagas de São Marcos e outras próximas, verificou-se uma alteração.
A Casa de Bragança, que possuia um telheiro na Tapada Real, construído devido à necessidade de matérias primas para obras no Paço Ducal, permitiu a utilização desse forno para proveito particular, recebendo a mesma Casa uma percentagem de todos os artefactos produzidos, não para venda, mas para as obras internas nos seus edifícios.

Não fora esta disponibilidade, os materiais de construção teriam que ser importados de outros concelhos, nomeadamente as telhas e os ladrilhos necessários para as obras. Só a Tapada Real possuía os elementos indispensáveis para esta indústria: água, barro e lenha.
Porém, no final do século XIX, ainda continuavam os três fornos em funcionamento, nesta zona da Fadraga[1].
Os fornos eram utilizados para a produção de materiais de construção, nomeadamente tijolos e telhas, num trabalho familiar e de carácter artesanal. 

Tinham a seguinte configuração:

FORNO - onde era queimada a lenha

GRELHA - por cima da abóbada, onde era colocada a telha

TULHA - Espaço destinado à telha, onde era cozida

Até aos anos 50 do século XX, existiam fornos de telha nesta região. Na imagens, temos o Forno de Telha da Tapada, que já existia pelo menos desde o início do século XIX.
Este conjunto edificado testemunha o trabalho e a arte dos telheiros, que aqui amassavam, moldavam e coziam o barro, produzindo materiais de construção essenciais no âmbito da construção.

 Haverá mais, por esses campos fora?






[1] ESPANCA, Joaquim José da Rocha, Memórias de Vila Viçosa nº 9, Vila Viçosa, Câmara Municipal de Vila Viçosa, 1984, p. 88.













Tulha


Forno





                                                                         Grelha




Forno de telha

                Paço da Tapada e Ermida de Nossa Senhora de Belém






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