domingo, 5 de abril de 2020

AS FORTIFICAÇÕES DAS GUERRAS DA RESTAURAÇÃO EM VILA VIÇOSA


As fortificações do século XVII em Vila Viçosa são as menos conhecidas, em comparação com o Castelo Medieval (século XIII) e Fortaleza Artilheira (século XVI). Portanto, quase podemos afirmar que existem três fortificações de diferentes períodos no designado “Castelo de Vila Viçosa”.


As fortificações do século XVII foram concebidas em dois momentos diferentes das Guerras da Restauração.

A primeira campanha da cintura abaluartada parece ter sido gizada pelo padre jesuíta João Pascácio Cosmander, mestre do príncipe herdeiro D. Teodósio III, filho primogénito de D. João IV. Este engenheiro militar holandês tinha sido enviado para vistoriar as praças do Alentejo, na companhia do general Matias de Albuquerque, o engenheiro francês Jean Gillot e do coronel de engenharia Nicolau de Langres.


Este último tinha um plano mais arrojado para Vila Viçosa, que incluía uma fortificação mais abrangente e que englobava a Cerca Nova, o Forte de São Bento e pontos de apoio nos Outeiros da Forca e de Ficalho, não tendo sido aprovado pelo Conselho de Guerra por ser demasiado dispendioso.


A segunda linha fortificada, que completou a anterior, surgiu na sequência da perda de Olivença, em 1662, que colocou Vila Viçosa na fronteira militar com Espanha e com um risco acrescido de ataque. Esta situação determinou a ampliação imediata do perímetro defensivo, que passou a englobar todo o núcleo da cintura medieval. 


Esta segunda obra foi da autoria do general alemão Conde de Schomberg. Esta estrutura defensiva adicional foi erguida com aterros de taipa e com fossos, coadjuvados por obstáculos e paliçadas.


Esta intervenção implicou a destruição dos imóveis que ao longo dos séculos se tinham construído, interna e externamente às muralhas medievais. Em Maio de 1662, demoliu-se a Cadeia Pública e dois anos depois, os Paços do Concelho e os  Açougues, situados na Praça Velha (a norte da torre albarrã e junto da entrada atual para o largo Nuno Álvares Pereira). O Pelourinho foi também deslocalizado para norte.

O único edifício que ficou permaneceu neste local foi a Capela de Nossa Senhora dos Remédios, que se encontrava no vão entre a torre albarrã e a muralha medieval, na zona da atual entrada para o interior da Cerca Velha, mais precisamente para o largo Nuno Álvares Pereira[1].


Em 1664, foi construído neste local o revelim protetor da Porta dos Remédios, que passou a ser a entrada principal do Castelo medieval[2]. Na envolvente, foi concebida a Estacada, pensada por Schomberg e feita com a madeira dos olivais de Vila Viçosa, que teve alguma importância na contenção dos soldados do Marquês de Caracena, aquando do cerco espanhol a Vila Viçosa, iniciado a 9 de Junho de 1665, dias antes da Batalha de Montes Claros.


Poucos vestígios das fortificações seiscentistas chegaram aos nossos dias, depois do arrasamento dos baluartes de Nossa Senhora dos Remédios, Portas de Évora, Estremoz, Elvas e Esperança. O complexo fortificado foi bastante danificado pelos bombardeamentos do cerco espanhol de 1665, As intervenções realizadas no reinado de D. João V, em 1735 não foram suficientes para a recuperação integral dos baluartes.

Apenas subsistem o revelim do Buraco do Corregedor, junto da Carreira das Nogueiras, que defendia a Porta de Estremoz e o polígono estrelado junto da Porta do Sol ou de Olivença, situados a sul, juntamente com o baluarte que defendia a Fortaleza Artilheira, situado a nordeste.


As últimas intervenções no Castelo foram realizadas a partir de 1939/40, quando a Direção Geral de Edifícios e Monumentos Nacionais promoveu um conjunto de obras de reabilitação no conjunto.


Esta operação, idealizada pelo Ministro das Obras Públicas, Duarte Pacheco, inseriu-se na lógica política do Estado Novo, que enaltecia os grandes feitos nacionais, nomeadamente a Restauração da Independência, ocorrida em 1640.


Vila Viçosa foi um dos palcos privilegiados para a propaganda de exaltação da memória nacional. No Castelo, a muralha medieval foi recuperada, assim como se procedeu à demolição da Capela de Nossa Senhora dos Remédios. No entanto, e estranhamente, estas ações privilegiaram sobretudo o recinto medieval e sacrificaram alguns dos baluartes seiscentistas.





[1] Esta Capela seria demolida em 1939/40, aquando das intervenções da DGEMN em Vila Viçosa.
[2] A Porta dos Remédios foi entaipada em 1939/40 pela DGEMN




BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
ESPANCA, Túlio, Idem, Inventário Artístico de Portugal – Distrito de Évora, Zona Sul, vol. I, Academia Nacional de Belas Artes, Lisboa, 1978.


                                                       Baluarte seiscentista localizado a sudeste



Baluarte seiscentista localizado a sudoeste




 Baluarte seiscentista junto do Burco do Corregedor, na Carreira das Nogueiras (parque de mercados), já fora da Cerca Velha


Zona da antiga Praça Velha, onde se localizavam os Paços Municipais, a Cadeia e os Açougues, que foram demolidos a partir de 1662


A amarelo, a Cerca Velha, do período medieval. A azul, temos a Fortaleza Artilheira e os baluartes seiscentistas que ainda resistem, a sul e a nordeste. Falta na imagem o baluarte do Buraco do Corregedor, situado fora da Cerca Velha.

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