As
fortificações do século XVII em Vila Viçosa são as menos conhecidas, em
comparação com o Castelo Medieval (século XIII) e Fortaleza Artilheira (século
XVI). Portanto, quase podemos afirmar que existem três fortificações de
diferentes períodos no designado “Castelo de Vila Viçosa”.
As
fortificações do século XVII foram concebidas em dois momentos diferentes das
Guerras da Restauração.
A
primeira campanha da cintura abaluartada parece ter sido gizada pelo padre
jesuíta João Pascácio Cosmander, mestre do príncipe herdeiro D. Teodósio III,
filho primogénito de D. João IV. Este engenheiro militar holandês tinha sido
enviado para vistoriar as praças do Alentejo, na companhia do general Matias de
Albuquerque, o engenheiro francês Jean Gillot e do coronel de engenharia
Nicolau de Langres.
Este
último tinha um plano mais arrojado para Vila Viçosa, que incluía uma
fortificação mais abrangente e que englobava a Cerca Nova, o Forte de São Bento
e pontos de apoio nos Outeiros da Forca e de Ficalho, não tendo sido aprovado
pelo Conselho de Guerra por ser demasiado dispendioso.
A segunda
linha fortificada, que completou a anterior, surgiu na sequência da perda de
Olivença, em 1662, que colocou Vila Viçosa na fronteira militar com Espanha e
com um risco acrescido de ataque. Esta situação determinou a ampliação imediata
do perímetro defensivo, que passou a englobar todo o núcleo da cintura
medieval.
Esta
segunda obra foi da autoria do general alemão Conde de Schomberg. Esta estrutura
defensiva adicional foi erguida com aterros de taipa e com fossos, coadjuvados
por obstáculos e paliçadas.
Esta
intervenção implicou a destruição dos imóveis que ao longo dos séculos se
tinham construído, interna e externamente às muralhas medievais. Em Maio de
1662, demoliu-se a Cadeia Pública e dois anos depois, os Paços do Concelho e
os Açougues, situados na Praça Velha (a
norte da torre albarrã e junto da entrada atual para o largo Nuno Álvares
Pereira). O Pelourinho foi também deslocalizado para norte.
O único
edifício que ficou permaneceu neste local foi a Capela de Nossa Senhora dos
Remédios, que se encontrava no vão entre a torre albarrã e a muralha medieval,
na zona da atual entrada para o interior da Cerca Velha, mais precisamente para
o largo Nuno Álvares Pereira[1].
Em 1664,
foi construído neste local o revelim protetor da Porta dos Remédios, que passou
a ser a entrada principal do Castelo medieval[2].
Na envolvente, foi concebida a Estacada, pensada por Schomberg e feita
com a madeira dos olivais de Vila Viçosa, que teve alguma importância na
contenção dos soldados do Marquês de Caracena, aquando do cerco espanhol a Vila
Viçosa, iniciado a 9 de Junho de 1665, dias antes da Batalha de Montes Claros.
Poucos
vestígios das fortificações seiscentistas chegaram aos nossos dias, depois do
arrasamento dos baluartes de Nossa Senhora dos Remédios, Portas de Évora,
Estremoz, Elvas e Esperança. O complexo fortificado foi bastante danificado
pelos bombardeamentos do cerco espanhol de 1665, As intervenções realizadas no
reinado de D. João V, em 1735 não foram suficientes para a recuperação integral
dos baluartes.
Apenas
subsistem o revelim do Buraco do Corregedor, junto da Carreira das Nogueiras,
que defendia a Porta de Estremoz e o polígono estrelado junto da Porta do Sol
ou de Olivença, situados a sul, juntamente com o baluarte que defendia a Fortaleza Artilheira, situado a nordeste.
As
últimas intervenções no Castelo foram realizadas a partir de 1939/40, quando a
Direção Geral de Edifícios e Monumentos Nacionais promoveu um conjunto de obras
de reabilitação no conjunto.
Esta
operação, idealizada pelo Ministro das Obras Públicas, Duarte Pacheco,
inseriu-se na lógica política do Estado Novo, que enaltecia os grandes feitos
nacionais, nomeadamente a Restauração da Independência, ocorrida em 1640.
Vila
Viçosa foi um dos palcos privilegiados para a propaganda de exaltação da
memória nacional. No Castelo, a muralha medieval foi recuperada, assim como se
procedeu à demolição da Capela de Nossa Senhora dos Remédios. No entanto, e
estranhamente, estas ações privilegiaram sobretudo o recinto medieval e sacrificaram
alguns dos baluartes seiscentistas.
[1] Esta Capela seria
demolida em 1939/40, aquando das intervenções da DGEMN em Vila Viçosa.
[2] A Porta dos Remédios foi
entaipada em 1939/40 pela DGEMN
BIBLIOGRAFIA
CONSULTADA
ESPANCA, Túlio, Idem, Inventário
Artístico de Portugal – Distrito de Évora, Zona Sul, vol. I, Academia
Nacional de Belas Artes, Lisboa, 1978.
Baluarte seiscentista localizado a sudeste
Baluarte seiscentista localizado a sudoeste
Baluarte seiscentista junto do Burco do Corregedor, na Carreira das Nogueiras (parque de mercados), já fora da Cerca Velha
Zona da antiga Praça Velha, onde se localizavam os Paços Municipais, a Cadeia e os Açougues, que foram demolidos a partir de 1662
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