sexta-feira, 24 de março de 2017

A RODA E O PALRATÓRIO DO CONVENTO DAS CHAGAS

Na antiga portaria do espaço conventual, podemos identificar a roda e o palratório. Eram estes elementos que permitiam o contacto das monjas com o “resto do mundo”. A comunidade religiosa, era por essência, invisível… A vida no interior do convento era contemplativa e de penitência e a ligação ao mundo exterior era sempre bastante controlada.

O palratório (neste caso de duplo gradeamento) servia para as freiras conversarem com quem as procurava. As rodas eram cilindros giratórios com aberturas laterais, onde se colocavam crianças enjeitadas ou fruto de ligações "inconvenientes”. Quem entregava as crianças não era visto por quem as recebia…

De tanto ser usada, a roda acabou por se tornar legítima, chegando a ser legalizada nos finais do século XVIII.
Existiam sobretudo nos mosteiros de clausura, como era o caso do Convento das Chagas de Vila Viçosa, onde se encontrava uma comunidade de clarissas, desde a primeira metade do século XVI.


As imagens com os azulejos da segunda metade do século XVIII identificam a área exterior pública, junto da portaria e as restantes, o espaço interior do convento, área utilizada pela comunidade religiosa.






segunda-feira, 20 de março de 2017

ANTIGO EDIFÍCIO DA CÂMARA MUNICIPAL, NO CASTELO DE VILA VIÇOSA

OUTRO ANTIGO EDIFÍCIO MUNICIPAL!

A primitiva Câmara Municipal de Vila Viçosa estava situada, provavelmente desde o final do século XV, na chamada PRAÇA VELHA.
Este local ficava um pouco a norte do atual Pelourinho e da Torre Albarrã, até mais ou menos ao local onde se encontra a estátua de D. Álvaro Abranches da Câmara.

Em 1664, devido à Guerra da Restauração, a PRAÇA VELHA e os edifícios que aí se encontravam foram demolidos, nomeadamente os açougues e a Câmara Municipal, para a criação da ESTACADA, uma estrutura defensiva em madeira dos olivais do termo, obstáculo que foi importante aquando do cerco a Vila Viçosa, pelo exército espanhol, antes da Batalha de Montes Claros, em 1665.


Por esse motivo, os Paços do Concelho passaram a funcionar provavelmente até ao início do século XVIII nesta casa do interior do Castelo que se vê na imagem, o nº 12 da antiga Rua de António Gançoso, (atual Rua de António Paes).



sexta-feira, 10 de março de 2017

A antiga fábrica de curtumes e o lagar de azeite do "Largo dos Pelames"

Esta foi a PRIMEIRA ZONA INDUSTRIAL DE VILA VIÇOSA!

Já tínhamos feito aqui referência aos lagares e alcaçarias existentes em Vila Viçosa e que estavam ainda em funcionamento no século XIX.
Hoje, com a ajuda do Sr. Francisco Carvalho, descobrimos as ruínas de duas dessas unidades de produção!

No Largo dos Pelames, talvez em meados do século XVI, existiam algumas fábricas de curtumes. Esta foi uma delas, que funcionou até ao século XIX. É curioso e (engenhoso) o aproveitamento das águas do giro (águas públicas da Ribeira do Beiçudo), que, através de canais, permitiam a utilização da água para a lavagem das peles.

A partir da antiga fábrica de curtumes, cujas ruínas se podem ver nas imagens, as águas eram conduzidas por outro canal até ao lagar, situado mais adiante e do qual já só existem vestígios, para fazer rodar as mós!

Na zona da fábrica de curtumes, é ainda visível o tanque de lavagem das peles, assim como as talhas que eram utilizadas para o armazenamento de água. Podem também ser identificadas as bicas dos canais de águas, que faziam a distribuição dos líquidos para estas duas infraestruturas industriais! No final do século XIX, estes equipamentos deixaram de funcionar. Todas as informações foram prestadas pelo Sr. Francisco Carvalho, a quem agradeço a disponibilidade.






terça-feira, 7 de março de 2017

Antigas Ruas de Vila Viçosa - contributos para o estudo da toponímia local

Ruas antigas de Vila Viçosa

Percorrer as ruas de Vila Viçosa constitui uma verdadeira descoberta sobre o passado desta localidade. Apesar das mudanças verificadas com as intervenções da Direção Geral de Edifícios e Monumentos Nacionais em 1939/40, constata-se que a antiga toponímia ainda se mantém em algumas artérias e muitos dos nomes originais perduram na memória dos calipolenses.

Outro facto curioso tem a ver com a ligação das ruas a nomes de nobres, militares, músicos e eclesiásticos que faziam parte da corte da Casa de Bragança, sediada no Paço Ducal. A partir daqui irradiou um verdadeiro centro de prestígio, poder e riqueza, cujos reflexos ainda hoje estão presentes na comunidade e que deixaram a sua marca nas designações das artérias do centro histórico.

Também os espaços conventuais originaram testemunhos nos nomes das antigas ruas do centro histórico, assim como os ofícios do século XVI e XVII.


Nome atual                                                                   Antiga designação

Largo José Sande                                                              Terreirinho do Patacão

Avenida Duques de Bragança                                         Rua de André Angerino (demolida com            as intervenções da DGEMN em 1940)

Avenida Duques de Bragança                                        Rua da Praça Velha (demolida com as               intervenções da DGEMN em 1940)

Praça Martim Afonso de Sousa                                     Largo da Fonte Grande

Largo de Serpa Pinto (Largo 25 de Abril)                   Adro de Santo Agostinho

Rua Luís Casadinho                                                         Carreira das Nogueiras

Rua da Cruz                                                                        Rua dos Coronéis

Rua Combatentes da Grande Guerra                            Rua dos Gentis

Rua Cristovão de Brito Pereira                                       Rua da Capela ou dos Caldeireiros

Praça da República                                                            Praça Nova de São Bartolomeu ou Praça          da Rainha D. Amélia

Rua Públia Hortênsia de Castro                                     Rua do Palratório de Santa Cruz

Avenida Bento de Jesus Caraça                                      Rua de Évora (demolida com as                           intervenções da DGEMN em 1940)

Avenida Bento de Jesus Caraça                                      Rua do Espírito Santo (demolida com as          intervenções da DGEMN em 1940)

Rua Sacadura Cabral                                                        Rua do Poço

Convento da Esperança                                                   Rua dos Frades

Rua Câmara Pestana                                                        Rua das Vaqueiras

Rua Alexandre Herculano                                               Rua da Freira

Rua Dr. Gomes Jardim                                                    Rua de Três ou de Trás

Rua Dr. António José de Almeida                                 Rua Nova de São Bartolomeu ou Rua de           Cambaia

Alameda Henrique Pousão                                             Rua do Colégio

Largo Tomé de Sousa                                                      Adro de Santa Luzia

Rua Padre Joaquim Espanca                                         Rua de António Homem

Rua Martim Afonso de Sousa                                        Rua de Frei Manuel e Rua da Cruz de               Santa Luzia (século XVI)

Rua Florbela Espanca                                                      Rua da Corredoura e Rua Dr. António de         Oliveira Salazar

Largo Mariano Presado                                                   Largo da Saboaria

Rua Dr. Couto Jardim                                                      Rua dos Fidalgos

Rua Alferes Marcelino                                                      Rua das Cortes

Rua Agostinho Cabral                                                       Rua de Santa Luzia

Rua António Matos Costa                                                Rua das Pedras

Rua António Matos Costa                                                Travessa do Arco da Lapa

Rua de Nossa Senhora                                                      Rua de Ruy Mendes

Rua Álvaro Gonçalves (Castelo)                                     Rua do Bugio

Rua António Paes (Castelo)                                            Rua de António Gançoso


Ruas que mantiveram o nome


Rua de Santo António, Travessa de Santo António (entre a Avenida Duques de Bragança e a Igreja de Santo António), Rua da Pascoela (em homenagem a D. Pascoela de Gusmão), Aldeias (designadas primeiramente Aldeia dos Bugios e de São Sebastião), Rua da Torre (entre a Torre Albarrã e a Rua de Santo António), Travessa da Esperança, Travessa da Palmeira (entre a Rua Alexandre Herculano e a Rua Câmara Pestana) e Travessa do Franco (em homenagem a Francisco Franco, mestre de música). Restam dúvidas em relação à Travessa do Tabelião, cuja localização para já desconhecemos.

FONTES: 
ESPANCA, Túlio. Figuras Gradas e Casario Antigo dos Arruamentos de Vila Viçosa, A Cidade de Évora, nº 57, 1974.


sexta-feira, 3 de março de 2017

Os 80 anos dos Bombeiros de Vila Viçosa e a Fundação da Casa de Bragança

Em 2017, mais precisamente no dia 27 de Junho, comemoram-se os 80 anos de vida da Corporação dos Bombeiros Voluntários de Vila Viçosa. 
A relação entre este organismo e a Fundação da Casa de Bragança foi motivo para uma pesquisa sobre a história partilhada entre estas duas Instituições, que têm mantido um diálogo permanente ao longo destas oito décadas.

Comemorar o octogésimo aniversário dos Bombeiros de Vila Viçosa é celebrar o esforço abnegado daqueles que permitiram a sua criação e dos seus sucessores, numa missão que se foi aperfeiçoando e progredindo, ao longo das últimas décadas, à luz de uma história de altruísmo, coragem e sacrifícios.

E como a categoria em que se classifica a importância dos Homens se deduz, não da sua vida eloquente ou obscura, mas do valor dos actos que praticam, aprendemos a olhar para os Bombeiros como heróis…

Resumir a história comum entre a Fundação da Casa de Bragança e os Bombeiros de Vila Viçosa representou um desafio sob a forma de viagem a um passado recente, onde se interligaram documentos, imagens e testemunhos orais… Muito haveria por narrar, tendo em conta o volume de acontecimentos partilhados pelas duas instituições.

A descoberta dos elementos escritos que alicerçaram esta relação demonstraram que de facto, a partilha e a cooperação entre a Fundação e os Bombeiros foi uma constante desde 1937 até a actualidade.
Trata-se de uma história solidária, intensa e duradoura, que se reflecte no interesse de ambas instituições em atingir os desígnios a que se propuseram… A preservação dos bens culturais contidos no Paço Ducal por parte da Fundação e a missão humanitária de combate a incêndios por parte dos Bombeiros.

Por seu turno, a Fundação sempre teve disponibilidade em colaborar com os Bombeiros no que diz respeito aos equipamentos de combate a sinistros que pudessem eventualmente colocar em causa o património sob sua tutela.
Desde a sua origem, os Bombeiros assumiram que o Palácio era o ponto mais sensível em termos de risco de incêndio e a formação do seu corpo activo sempre teve especial incidência sobre esta questão. O Paço Ducal constituiu um motivo de preocupação constante para os Bombeiros de Vila Viçosa, na medida em que o seu legado patrimonial, único e insubstituível, está integrado em estruturas de construção constituídas maioritariamente por materiais combustíveis.

O Conselho Administrativo da Fundação da Casa de Bragança, sob a presidência do Dr. António Luíz Gomes, a partir de 1945, interessou-se vivamente pela associação dos Bombeiros voluntários de Vila Viçosa e pelo seu adestramento e eficiência, proporcionando-lhe frequentes sessões de instrução e aquisição de equipamentos e materiais necessários.

Como foi salientado, as preocupações com o Paço Ducal e o seu conteúdo sempre foram alvo de atenção especial por parte dos bombeiros de Vila Viçosa e periodicamente, nos anos 40, deslocavam-se a esta localidade elementos dos sapadores bombeiros de Lisboa, para vistoriarem o edifício e ministrarem formação aos elementos da corporação de Vila Viçosa.
A instrução aos Bombeiros começou a ser orientada pelo Chefe Mário de Almeida, dos Sapadores Bombeiros de Lisboa, a expensas da Fundação, em Maio de 1946, tendo interrompida unicamente nos anos de 1947-48.

Nesse mesmo ano, no dia 8 de Agosto, chega a vila Viçosa uma moto-bomba oferecida pela Fundação à corporação de Bombeiros. A chegada deste equipamento a Vila Viçosa originou um verdadeiro entusiasmo público, que culminou com várias romarias ao quartel. Refere-se, na documentação consultada, que este equipamento não tinha exemplares semelhantes na região.

A aquisição da escada Metz Magyrus em 1952 é um outro exemplo paradigmático…
Num processo demorado de avaliação de propostas e análise sobre as diferentes marcas disponíveis, a Fundação da Casa de Bragança avançou para a aquisição deste equipamento, considerado fundamental para fazer frente a qualquer eventual sinistro no Paço dos Duques.
Mas não só a aquisições ou patrocínios se restringe a história entre as duas instituições. 
No triénio 1953-1956, o conservador do Paço Ducal, Dr. João de Figueiredo, exerceu as funções de Presidente da Assembleia Geral da Corporação dos Bombeiros de Vila Viçosa, como representante do Conselho Administrativo da Fundação da Casa de Bragança.

Este diálogo institucional não se resumiu unicamente à formalidade dos apoios monetários para aquisição de meios de combate, mas incluiu também a utilização de espaços para a realização de actividades lúdicas e culturais, cujas receitas revertiam a favor dos Bombeiros e que em muito contribuíram para o seu desenvolvimento ao longo destes 80 anos de história.


Não serão suficientes as palavras para justificar a grandeza do valor dos Bombeiros, da sua lealdade e dos seus méritos e é nesse contexto que deve ser entendido o profícuo relacionamento com a Fundação da Casa de Bragança.