No
seguimento da terrível e verídica história dos assassinatos do Alto da Portela,
o Padre Espanca, grande cronista de Vila Viçosa no final do século XIX,
conta-nos uma lenda que ouviu contar aos seus pais e avós.
Escreveu
que, no seu tempo, muita gente confundia a lenda
do forno da mulher com a história anterior, não havendo, no entanto,
qualquer ligação entre ambas. A proximidade dos locais onde se terão passado os
factos gerava por vezes algumas confusões.
Tratavam-se
de casos muitos diferentes.
O forno
da mulher estava situado também no Alto da Portela, já quase na Toca do
Lagarto, à mão esquerda de quem vem de Vila Viçosa. Estava localizado no olival
que precede outro onde começa a descer a estrada vicinal para as Fontanas,
passando pelo Seixo Branco. Ficava muito perto da estrada de Bencatel, não
muito longe do lugar onde o terrível João executara a mulher e o filho em 1781.
A lenda
do forno da mulher devia ser muito antiga, já que em meados do século XIX só já
existiam ruínas do local. Em 1873, conta o Padre Espanca que o médico Bivara,
proprietário do terreno, retirou o que restava do antigo forno e plantou uma
estacaria de oliveiras que ainda por lá existem.
No final
do século XIX, aquela zona era já somente conhecida como o sítio do forno da mulher, não existindo nessa data nenhum vestígio
da construção.
Os fornos
de cal tinham uma especial relevância nesta zona. Pelo menos desde a Idade
Média que é conhecida a produção de cal, obtida através da liquidificação do
mármore a elevadas temperaturas. Em termos económicos, até à introdução das
tintas plásticas, tratava-se de uma actividade muito importante.
Em tempos
muito distantes, achava-se o dito forno a cozer a cal e já no terceiro e último
dia da cozedura, apareceu na estrada uma caleça (carruagem), conduzida por um
homem com um ar fidalgo e uma senhora. Parando junto do forno, apeou-se o
cavalheiro e foi ajustar com o caleiro a venda em globo da fornada de cal, que
pagou de pronto, mandando retirar os operários que ali se encontravam a
trabalhar.
Dias
depois, constatando que a fornada se encontrava intacta, foi ali por
curiosidade o caleiro que a vendera por inteiro e encontrou uma chinela de
mulher perto da boca do forno.
Muitos
dias se passaram e nunca o desconhecido comprador da cal apareceu a removê-la
dali, ficando a entender os contemporâneos que o cavalheiro com a ajuda do
cocheiro haviam metido a mulher que traziam na caleça, viva ou morta, para
dentro do forno ardente.
Esta é a
lenda, que não se sabe ser verdadeira ou não. O que é certo é que aquele local
ficou para sempre conhecido como o Forno
da Mulher, designação que só podia surgir por alguma razão.
Bibliografia
ESPANCA,
Padre Joaquim José da Rocha, Memórias de Vila Viçosa, Cadernos Culturais da
Câmara Municipal de Vila Viçosa
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