terça-feira, 2 de outubro de 2018

As actividades produtivas em Vila Viçosa nos séculos XVI e XVII


Talvez seja hoje para nós difícil imaginar como seriam as vivências quotidianas da Vila Ducal no passado. A julgar pelas crónicas, Vila Viçosa era um centro de referência, também no que diz respeito às atividades produtivas.

Ao longo dos séculos XVI e XVII, marcaram presença em Vila Viçosa, à sombra do mecenato dos Duques de Bragança, várias atividades artísticas e produtivas, que se extinguiram depois de 1640, quando o oitavo Duque, D. João, assume a Coroa, como D. João IV, o primeiro da Dinastia brigantina.
São conhecidas as atividades de António Rodrigues, no século XVI, como oficial de instrumentos astronómicos e de navegação. No Paço Ducal, estava em funcionamento um verdadeiro “laboratório”. Existiam oficinas de pintores, carpinteiros, douradores, entalhadores, tecelões e sobretudo mestres de cantaria, arte que perdurou até à atualidade.
Destacam-se os nomes de Agostinho Nunes, Manuel Pires e Manuel Rodrigues, que se tornaram famosos fora dos limites do concelho e que tomaram a empreitada da construção da Fonte da Alameda, em Elvas, no ano de 1628, segundo encomenda do mestre Fernão Gomes.

Dos serviços de que a vila dispunha, destacam-se também o elevado número de sapateiros, alfaiates, barbeiros e ferradores. Não faltavam os ourives, sobretudo para satisfazer as encomendas da Casa de Bragança. Está igualmente comprovada a existência de “cabeleireiros”, já no século XVIII.
A fábrica de vidro, localizada nos anexos do Paço Ducal em 1621, junto à cozinha, teve como mestre o técnico estrangeiro Martim Sousão e o moinho de papel, construído em 1637 na ribeira de Borba, que fornecia a produção documental da Casa de Bragança, fator essencial na administração do ducado.

Para além disso, existiam vários lagares de azeitona, ao longo da Ribeira do Beiçudo, que funcionaram até ao século XIX. No século XVII, o mais importante era o lagar de João Tomé, situado junto da Carreira das Nogueiras.

Também a nível dos armeiros se destacam vários nomes nos séculos mencionados, conhecendo-se a determinação municipal de 23 de Janeiro de 1641, que impôs aos espingardeiros Manuel Pereira e Jorge Cordeiro (provavelmente filho de João Cordeiro, mestre espingardeiro do Duque D. Teodósio II em 1607) e aos ferreiros João, Afonso e Domingos (todos de apelido Rodrigues), a produção exclusiva de arcabuzes para o exército, pagando-se 3000 reis por cada arma.
A localidade era também abastecida regularmente dos produtos que necessitava. Existiam dois açougues, cuja carne, trazida de fora, era contratada a marchantes. O peixe vinha de Setúbal duas vezes por semana e era fornecido por regatões obrigados a abastecer a Casa de Bragança. Existia também um celeiro, situado na extinta Praça Velha, junto da antiga Câmara (nas imediações do Pelourinho, no acesso ao Castelo). Este armazém assumia uma função de relevo, sobretudo nos anos de carência, através do fornecimento de sementes aos proprietários rurais.

FONTES CONSULTADAS:

ARAÚJO, Maria Marta Lobo de, Dar aos pobres e emprestar a Deus: as Misericórdias de Vila Viçosa e Ponte de Lima (Séculos XVI-XVIII), Barcelos, 2000.

ESPANCA, Túlio, Inventário Artístico de Portugal – Distrito de Évora, Zona Sul, vol. I, Academia Nacional de Belas Artes, Lisboa, 1978.


                                          Ruínas do engenho de ferro





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