Talvez
seja hoje para nós difícil imaginar como seriam as vivências quotidianas da
Vila Ducal no passado. A julgar pelas crónicas, Vila Viçosa era um centro de
referência, também no que diz respeito às atividades produtivas.
Ao longo
dos séculos XVI e XVII, marcaram presença em Vila Viçosa, à sombra do mecenato
dos Duques de Bragança, várias atividades artísticas e produtivas, que se
extinguiram depois de 1640, quando o oitavo Duque, D. João, assume a Coroa,
como D. João IV, o primeiro da Dinastia brigantina.
São
conhecidas as atividades de António Rodrigues, no século XVI, como oficial de
instrumentos astronómicos e de navegação. No Paço Ducal, estava em
funcionamento um verdadeiro “laboratório”. Existiam oficinas de pintores,
carpinteiros, douradores, entalhadores, tecelões e sobretudo mestres de cantaria,
arte que perdurou até à atualidade.
Destacam-se
os nomes de Agostinho Nunes, Manuel Pires e Manuel Rodrigues, que se tornaram
famosos fora dos limites do concelho e que tomaram a empreitada da construção
da Fonte da Alameda, em Elvas, no ano de 1628, segundo encomenda do mestre
Fernão Gomes.
Dos
serviços de que a vila dispunha, destacam-se também o elevado número de
sapateiros, alfaiates, barbeiros e ferradores. Não faltavam os ourives,
sobretudo para satisfazer as encomendas da Casa de Bragança. Está igualmente
comprovada a existência de “cabeleireiros”, já no século XVIII.
A fábrica
de vidro, localizada nos anexos do Paço Ducal em 1621, junto à cozinha, teve
como mestre o técnico estrangeiro Martim Sousão e o moinho de papel, construído
em 1637 na ribeira de Borba, que fornecia a produção documental da Casa de
Bragança, fator essencial na administração do ducado.
Para além disso, existiam vários lagares de azeitona, ao longo da Ribeira do Beiçudo, que funcionaram até ao século XIX. No século XVII, o mais importante era o lagar de João Tomé, situado junto da Carreira das Nogueiras.
Também a
nível dos armeiros se destacam vários nomes nos séculos mencionados,
conhecendo-se a determinação municipal de 23 de Janeiro de 1641, que impôs aos
espingardeiros Manuel Pereira e Jorge Cordeiro (provavelmente filho de João
Cordeiro, mestre espingardeiro do Duque D. Teodósio II em 1607) e aos ferreiros
João, Afonso e Domingos (todos de apelido Rodrigues), a produção exclusiva de
arcabuzes para o exército, pagando-se 3000 reis por cada arma.
A
localidade era também abastecida regularmente dos produtos que necessitava.
Existiam dois açougues, cuja carne, trazida de fora, era contratada a
marchantes. O peixe vinha de Setúbal duas vezes por semana e era fornecido por
regatões obrigados a abastecer a Casa de Bragança. Existia também um celeiro,
situado na extinta Praça Velha, junto da antiga Câmara (nas imediações do
Pelourinho, no acesso ao Castelo). Este armazém assumia uma função de relevo,
sobretudo nos anos de carência, através do fornecimento de sementes aos
proprietários rurais.
FONTES CONSULTADAS:
ARAÚJO, Maria Marta Lobo de, Dar aos
pobres e emprestar a Deus: as Misericórdias de Vila Viçosa e Ponte de Lima
(Séculos XVI-XVIII), Barcelos, 2000.
ESPANCA,
Túlio,
Inventário Artístico de Portugal – Distrito de Évora, Zona Sul, vol. I,
Academia Nacional de Belas Artes, Lisboa, 1978.
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