Foi
cabeça de um importante morgado[1]
instituído pelo secretário da Duquesa D. Catarina de Bragança, Dr. Afonso de
Lucena, em 1596.
A casa
foi confiscada para a Coroa portuguesa depois de 1640, pelo Rei D. João IV (8º
Duque de Bragança), porque a família Lucena se colocou do lado do Rei Espanhol
Filipe IV, nas Guerras da Restauração em Portugal[2].
Antes
dessa data, devido a problemas com D. Luísa de Gusmão, (esposa do oitavo Duque
de Bragança, D. João – futuro rei de Portugal D. João IV), instalaram-se em
Peixinhos, em 1633, os irmãos deste, D. Duarte e D. Alexandre, antes de
partirem para uma longa peregrinação a Guadalupe, em Espanha. D. Alexandre
regressou, falecendo em 1637 e D. Duarte passou ao serviço do Imperador da
Alemanha Fernando III, participando na Guerra dos Trinta Anos e morrendo
torturado no Castelo de Milão.
Em
Peixinhos viveu alguns anos e morreu em 1676 o cônsul da Flandres em Portugal,
Venant de La Masurem conhecido na terra como o estrangeiro de Peixinhos.
Neste
tempo, o paço-quinta de Peixinhos era considerado sumptuoso pelos habitantes de
Vila Viçosa e estava totalmente murado e nas suas terras havia um castanhal, coelheira,
horta, pomar, vinhas, olival e terras de semeadura.
A
restituição dos bens do morgadio à família Lucena foi feita pelo Rei D. João V,
em 1720, acabando a propriedade por ser entregue a D. Bernardo António de
Lucena.
Em 1729,
quando a corte do Rei D. João V se deslocou ao Caia para a Cerimónia da Troca
de Princesas (uma troca de casamentos entre uma princesa espanhola, D. Mariana Vitória,
que casou com D. José, filho de D. João V e a sua filha, D. Bárbara de
Bragança, casou com o D. Fernando, filho do rei espanhol), hospedou-se em
Peixinhos o Cardeal D. Tomaz de Almeida, com todo o Cabido Patriarcal.
Oito anos
depois, D. Bernardo de Lucena arrendou Peixinhos ao Conde de Riviére, Coronel de
Dragões e a seu filho, D. Francisco de Riviére, capitão de cavalos
Na Quinta
de Peixinhos viveu D. Joaquim Eugénio de Lucena Almeida Noronha, herdeiro de D.
Bernardo, que manteve o solar e os seus anexos bem conservados, até que o
último titular, D. Martinho de Lucena, em 1878, se viu alienado de todos os
bens em hasta pública de execução por dívidas, em benefício de um negociante de
Lisboa, Adolfo de Lima Mayer.
A
propriedade, que está situada nas imediações da vila, foi adquirida em 1930
pelo conde de Monte Real, Artur Porto de Melo e Faro, que procedeu ao completo
restauro do velho e quase perdido solar rústico do século XVII, incluindo a
Ermida de Santo Ildefonso.
O edifício
palaciego foi totalmente reerguido em 1936-37, obedecendo a um critério
artístico discutível, que pretendeu obedecer nas linhas gerais aos alicerces
subsistentes.
Em 1945,
por morte deste titular, o recuperado imóvel passou para a sua filha e herdeira
D. Maria da Luz de Melo e Faro, casada com D. Diogo de Fonseca Passanha, casal
que o manteve até cerca de 1975, composto por um vasto recheio de antigas artes
decorativas portuguesas dos séculos XVII -XIX, nomeadamente móveis barrocos e
neoclássicos, porcelanas da China, Companhia das Índias e Cantão, secção de
armaria branca e de fogo, disposta em recetáculos próprios, prataria, uma
liteira seiscentista da Casa dos Faros e Lucena, uma boa coleção de estampas
franceses, pinturas a óleo sobre tela, com naturezas mortas e retratos de
elementos da família Lucena, e ainda um curioso núcleo de aguarelas do Rei D.
Carlos, assim como arte religiosa[3].
Outro
interesse patrimonial da Quinta de Peixinhos é a nora do século XVII que,
através de aqueduto de alvenaria, transportava a água para a cozinha do
edifício. A nora era movida por um possante boi, noutros tempos. Trata-se de
uma construção vultuosa, erguida no antigo pomar[4]
e lançada em planta quadrangular, rasgada internamente por cinco tramos de
arcadas de volta plena, de grande dimensão, reforçadas na parte sul por botaréus
inclinados, de grossa alvenaria e coroamento de pináculos piramidais.
No topo
elevado a norte, no muro da quinta, dominando a panorâmica de Vila Viçosa,
encontra-se a primitiva CRUZ DE
PEIXINHOS, de mármore.
A sul do Paço,
encontra-se a Ermida de Santo Ildefonso, que alcançou o final do século XIX num
relativo estado de conservação, tendo sofrido um profanação nos primeiros anos
do século XX.
O edifício
religioso foi fundado no início do século XVII pelos donatários Dr. Afonso de Lucena
e sua mulher D. Isabel de Almeida, tendo sido aberta ao culto após licença dada
pelo Arcebispo de Évora D. Alexandre de Bragança a 21 de Abril de 1605, quando
o prelado se encontrava no Paço de Vila Viçosa, com o seu irmão, o sétimo Duque
de Bragança D. Teodósio II.
A Ermida
obedece, em planta, ao modelo da Ermida de São João do Carrascal, com disposição
em cruz grega. A fachada tem um portal de mármore trabalhado, com jambas,
vergas duplas e frontão triangular, mantendo a linha original. O pavimento
conserva o piso de mármore da época da fundação.
No seu
interior encontravam-se as imagens de Santo António e da Virgem Maria, de madeira
estofada e dourada, assim como um painel a óleo sobre tela do Calvário do século
XVIII.
Destacava-se
também um precioso busto em alabastro de D. José Maria da Fonseca e Évora, Bispo
do Porto, Embaixador do Rei D. João V em Roma e grande mecenas da cultura
sagrada, parente dos Lucenas e promotor da sua restituição ao reino.
No espaço
central da rua ajardinada, que teve bancos de repouso, latadas e canteiros de
buxo tosquiado, encontra-se, de proveniência desconhecida e colocada no local
pelos Condes de Monte Real, uma curiosa fonte de mármore branco de estilo Renascença.
Em 2012, o
Aldeamento de Peixinhos, uma unidade turística construída de raiz nas
proximidades do Paço e inaugurada em 2004, fechou as portas.
Trata-se de um equipamento
que inclui 24 apartamentos T1 e dois T3, dispostos em dois blocos. A unidade
turística integrava ainda piscinas, envolvidas por um vasto relvado, campo de
ténis e um restaurante. O complexo incluía também uma casa de turismo de
habitação (o Paço de Peixinhos) com oito quartos.
BIBLIOGRAFIA
CONSULTADA
ESPANCA,
Joaquim José da Rocha, Memórias de Vila Viçosa, IV, pp 62, 429-30
ESPANCA, Túlio, Inventário Artístico
de Portugal, Zona Sul, vol. I,
Academia Nacional de Belas Artes, Lisboa, 1978, pp 663-666
Vila
Viçosa, 8 de Novembro de 2020
Tiago
Salgueiro
[1]Vínculo inalienável e indivisível que se transmitia numa família, de primogénito em primogénito.
[2] Francisco de Lucena foi secretário do Conselho
de Portugal na corte filipina e foi vítima do célebre processo de 1643, que o
levou ao patíbulo na Ribeira de Lisboa.
[3] Todas estas coleções foram vendidas quando
D. José de Passanha, filho dos últimos proprietários, entrou em insolvência
[4] ESPANCA, Túlio, Paço Quinta de Peixinhos e
Ermida de Santo Ildefonso, in A Cidade de Évora, nº 57, pp.273-278.
Entrada principal do Paço
Aqueduto
Aldeamento de Peixinhos
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