quarta-feira, 30 de outubro de 2024

CALLIPOLE SUBTERRÂNEA - A REDE DE CONTRAMINAS DA QUINTA DAS VELHAS

 REDE DE CONTRAMINAS DA QUINTA DAS VELHAS




1 - Chafariz do Santos


Dando continuidade aos trabalhos de identificação, estudo e valorização do património calipolense, uma equipa da CMVV deslocou-se ontem à Quinta das Velhas, com o intuito de proceder a uma avaliação mais detalhada de um complexo conjunto de galerias subterrâneas, com cerca de 2,5 km, concebidas na primeira metade do século XIX, que tinha como objetivo a condução e gestão de águas, desde a nascente até diferentes hidropontos.
Esta exploração, efetuada com a devida autorização dos proprietários e cumprindo as normas de segurança, só foi possível devido à descida dos níveis freáticos, ocorrida recentemente, o que proporcionou a descida às galerias através do designado Chafariz do Santos.
Em Agosto de 2024, os locais por onde passamos estavam completamente submersos.
Esta operação constituiu uma redescoberta de um engenhoso sistema de galerias subterrâneas, com vários túneis de cerca de 1,20m de altura e 60 cm de largura, escavados na rocha e com estruturas de alvenaria e abóbadas de tijoleira, semelhantes a outras existentes em diferentes pontos de Vila Viçosa. A condução das águas era utilizada com recurso à lei da gravidade, tendo em conta o declive existente desde a nascente.
Este sistema surge no Vale das Pegas, onde se encontra a nascente (a cerca de 2 km da Quinta das Velhas), passando pela nora, (de onde partem várias contraminas em diferentes direções), até ao Chafariz do Santos (de onde parte outra contramina provavelmente em direção ao Chafariz da Coutada, estando outra contramina barrada, devido a um possível deslizamento de terras). A designação de Chafariz do Santos surge devido ao nome do proprietário, Francisco António dos Santos, que concebeu esta rede, conforme referido, na primeira metade do século XIX.
No âmbito do projeto CALLIPOLE SUBTERRÂNEA, foram identificados até ao momento cerca de 30 estruturas com estas características, quer no centro histórico, quer na envolvente da localidade, que preconizam a existência de uma rede de armazenamento, condução e gestão de águas subterrâneas, datadas provavelmente dos séculos XVI, XVII, XVIII e XIX. Este estudo está integrado na proposta de candidatura de Vila Viçosa a Património Mundial da UNESCO.
Neste caso concreto e de acordo com a bibliografia consultada, a construção das contraminas da Quinta das Velhas, com a nascente a oeste no Vale das Pegas, originou um litigio entre diferentes proprietários, devido à gestão partilhada das águas subterrâneas e teve como consequência o desaparecimento de documentação municipal, nomeadamente algumas atas da Câmara, no período compreendido entre 1824 e 1837.
Estamos a proceder à elaboração do relatório mais detalhado sobre esta visita exploratória, de modo a poder estudar de forma mais objetiva a configuração deste conjunto de contraminas, localizadas a cerca de 3 km do centro histórico de Vila Viçosa.
A descida ao local foi efetuada pelo Chafariz do Santos, onde foram percorridos cerca de 70 metros, a 3 metros de profundidade, por entre uma população de morcegos, até à nora, onde se encontra uma torre de respiração (por onde efetuamos a saída) e de onde partem mais 3 contraminas, em diferentes direções.
Recordamos que estas construções foram efetuadas num período em que a tecnologia era rudimentar e utilizando poucos recursos, para além da força braçal para a escavação e consolidação dos túneis.
Agradecemos ao Eng.º Nuno Gonçalves, Pedro Pinheiro, Paulo Vinagre, Manuela Pernas, colaboradoras do Posto de Turismo de Vila Viçosa e D. Belém Sampaio o apoio dado a esta operação.


2 - Interior da contramina, entre o chafariz e a nora




3 - Torre de respiração da nora






4 - Nora da Quinta das Velhas



5 - Interior da contramina


quarta-feira, 11 de setembro de 2024

Estão aí as Festas dos Capuchos!!!

 

Esta é a grande festa em honra de Nossa Senhora da Piedade e Senhor Jesus dos Aflitos, realizada anualmente no terreiro defronte da igreja do Convento dos Capuchos, no segundo fim-de-semana do mês de Setembro, desde 1863.

 O evento, com 161 anos, realiza-se no largo do antigo espaço conventual, nas imediações da Igreja de Nossa Senhora da Piedade, um antigo edifício do século XVIII.

Na sua génese foram as esmolas dos fiéis que a sustentaram, por iniciativa de Matias Reixa, com o apoio de Adrião Rainho, pirotécnico que participava nas festividades do Senhor da Piedade em Elvas.

Inicialmente, a festividade religiosa era feita num dia, culminando com procissão, não faltando um grande arraial de véspera, com música, fogo-de-artifício e tourada durante a tarde dominical. Na sua essência, as Festas mantêm-se com o mesmo formato, com o largo a ser preenchido por barraquinhas de comes e bebes e diversões, com muita música e boa disposição à mistura. Eram muitos os romeiros que para aqui se deslocavam, com as suas famílias, provenientes de todos os cantos do Alentejo, nos carros de canudo ou churriões.

Trata-se de uma tradição antiga em que o convívio e a alegria vincam os traços dos rostos das inúmeras pessoas que, atualmente, durante vários dias, enchem por completo o recinto das festividades. Nos nossos dias, trata-se de um momento de reencontro dos Calipolenses que andam pelas quatro partidas do Mundo e que regressam nesta data, celebrando a identidade muito genuína da Princesa do Alentejo.

 Com uma programação cultural muito diversificada, sempre foi uma das festas mais concorridas, marcando o calendário no final do verão, como momento de celebração e de partilha. É uma das datas mais ansiada por todos os Calipolenses!




quinta-feira, 27 de junho de 2024

ANTIGO MERCADO MUNICIPAL DE VILA VIÇOSA

 

Antigo Mercado Municipal de Vila Viçosa

Em 1990, o edifício do Mercado das Carnes e Peixes, obra não classificada, mas considerada de interesse patrimonial, foi demolido, para dar lugar ao atual Mercado Municipal de Vila Viçosa.

A forma original do antigo imóvel em cruz e com cantaria maciça, toda em mármore, como peça construtiva, projetada pelos irmãos Rebelo de Andrade em 1939, quando se iniciaram as grandes intervenções do Estado Novo em Vila Viçosa, era na época um local de grande interesse arquitetónico e uma referência na localidade.

Nas quartas-feiras, dia do mercado semanal, sobretudo nos anos 60 e 90 do século XX, era grande a afluência de público ao local, onde se juntavam outros vendedores e almocreves vindos da região, expondo na via pública os seus artigos, entre os quais se destacavam as peças de cerâmica, os metais e a cestaria de vime.

Os autores da obra do Mercado eram uns dos mais representativos elementos da história da arquitetura portuguesa do século XX, designadamente no período do Estado Novo (o designado estilo “Português Suave”), tendo sido os responsáveis pelos projetos do Arsenal do Alfeite, a Fonte Luminosa, o Museu Nacional de Arte Antiga e o Pavilhão Carlos Lopes.

Em Vila Viçosa, deixaram igualmente a sua marca no Cine-Teatro Florbela Espanca e no antigo Grémio da Lavoura, na Avenida Duques de Bragança.

Alguns calipolenses, na época, defenderam a integração desta peça arquitetónica no projeto do novo Mercado, que era essencial para dar resposta às necessidades da população, embora esse pedido não tenha sido tido em linha de conta. O antigo Mercado acabou mesmo por ser demolido. Há quem diga que as pedras da construção foram numeradas depois desse processo e levadas para parte incerta. Mas é um mistério que permanece…





segunda-feira, 8 de abril de 2024

ANTIGA FREGUESIA DE NOSSA SENHORA DE CILADAS

 

ANTIGA FREGUESIA DE NOSSA SENHORA DE CILADAS

Tratava-se da freguesia mais oriental do concelho (a 6ª) e a que tinha menos população.

A leitura de alguns documentos medievais, levada a cabo pelo padre Henrique Louro, em 1967, remetia a origem do nome para  os termos “seada”, “çiada”, “selada”, que correspondiam aos termos assentada e planura pequena.

A lenda diz, por outro lado, que a designação Ciladas tem outra origem:

No tempo dos “sarracenos”, na Serra dos Coroados e junto ao Monte de Carvão, os cavaleiros cristãos armaram umas armadilhas e fizeram umas emboscadas para atacar uma caravana de mantimentos e armas de guerra dos árabes, que se encaminhavam para estas bandas. Para o efeito, os cristãos invocaram a ajuda de Nossa Senhora, fazendo votos de lhe erigir uma ermida no caso de sairem vitoriosos.

E assim foi. Com a providência mariana, conseguiram alcançar os seus intentos e, para celebrar a vitória, construiram uma pequena ermida consagrada a Nossa Senhora, com o singular título de Nossa Senhora de Ciladas.

A igreja, hoje em ruínas, está situada na Herdade de Carvão, sobre os altos de Vila Boim, aquém do Monte Coronado, que separa o concelho de Vila Viçosa do território de Elvas.

As terras de Ciladas eram muito rendosas, por serem boas terras de pão e por possuírem excelentes montados de azinho para a criação de porcos. Havia também algumas hortas e quintas, por entre o Monte Carvão e a Serra dos Coroados, que tinham laranjas de ótima qualidade. Em 1858, existia por estas bandas, mais precisamente na herdade de Carvão, uma mina de ferro e de outros metais. Desde 1871 que estava anexa eclesiasticamente a São Romão, a freguesia mais próxima.

A freguesia de Ciladas foi anexada à freguesia de São Romão em 1966, pois a sua população nesta data era já demasiado reduzida. Os seus habitantes foram residir maioritariamente para a aldeia maior.

Em Ciladas, restam apenas hoje as ruínas da vida de outrora.







 

segunda-feira, 11 de março de 2024

Freguesia de Santa Anna de Bencatel

É provável que a constituição do primeiro aglomerado populacional tenha surgido no século XVII. No século XIX, a riqueza principal desta freguesia estava nos mananciais de água. O principal era o da Lagoa, cujas águas nativas formavam uma ribeira, correndo para o poente até se despejar na ribeira do Lucefecit, com um percurso de seis quilómetros. Nas suas margens funcionavam neste período 19 azenhas de moer farinha, com os seus quintais ou hortas, onde se produziam muitas frutas e hortaliças.

No Monte D’El Rei havia também um grande manancial chamado Trincarlos, que tornava férteis aquelas terras. Em torno da aldeia os campos eram muito férteis. Afirmava o padre Espanca que melões mais saborosos do que os de Bencatel não existiam e nenhuma outra freguesia produzia mais feijão de regadio do que esta.

No século XIX, os moradores de Bencatel estavam sobretudo ligados à agricultura – lavradores, moleiros, seareiros, vinhateiros, negociantes, artistas e jornaleiros. Havia dois lagares de azeite, fabricados, o de cima, em 1835 e o de baixo em 1857. Existia uma lagareta montada em 1870 e uma escola pública para meninos fundada em 1860.


sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

CILADAS E SÃO ROMÃO

 

São Romão, “aldeia branca e asseada”, é uma freguesia do concelho de Vila Viçosa, conhecida pelas suas festas, pela sua arquitetura tipicamente alentejana e pela hospitalidade das suas gentes.

O primeiro povoado surgiu provavelmente na primeira metade do século XVI, mas só em meados do século XVII a Misericórdia de Vila Viçosa fundou juridicamente a aldeia. Tinha boas terras de cultura cerealífera e os seus habitantes viviam da agricultura.

Em toda a freguesia foram encontrados, em escavações fortuitas, materiais de valor arqueológico, cerâmica romana, sepulturas lajeadas, pedras esculpidas e outros artefactos de antigas civilizações peninsulares.

Mas ainda antes de São Romão existir, havia outra freguesia, de Nossa Senhora de Ciladas, que era a 6ª do concelho e a menos populosa. No final do século XIX, eram muito rendosas as herdades do seu termo, por terem boas terras de pão e montados excelentes de azinho para a criação de porcos. As laranjas das herdades de Carvão e Coroados eram também conhecidas pela sua qualidade.

Aqui também foram encontrados vários vestígios arqueológicos, que testemunham a existência de povoados pré-históricos e romanos. A antiga freguesia de Ciladas ergueu-se à volta da igreja, hoje em ruínas.

Reza a lenda que, no tempo dos “Sarracenos”, na serra dos Coroados, os cristãos armaram umas ciladas e fizeram umas emboscadas para capturar uma grande caravana de vitualhas e mantimentos destinadas aos “mouros”.

Antes do encontro, os cristãos invocaram o auxílio a Nossa Senhora, fazendo votos de lhe erigir uma ermida, se as ciladas surtissem efeito, o que se veio a verificar. Nossa Senhora atendeu as preces e os cristãos, cumprindo a promessa, edificaram uma pequena ermida em sua honra, atribuindo-lhe o nome de Nossa Senhora de Ciladas. Foi em redor deste edifício que a povoação foi crescendo.

A freguesia de Ciladas foi anexada à freguesia de São Romão em 1966, pois a sua população nesta data era já demasiado reduzida. Os seus habitantes foram residir maioritariamente para a aldeia maior. Em Ciladas, restam apenas hoje testemunhos da vida de outrora.




domingo, 4 de fevereiro de 2024

O "RASGAR" DA AVENIDA DUQUES DE BRAGANÇA.

 VILA VIÇOSA DE OUTRAS ERAS!

O "RASGAR" DA AVENIDA DUQUES DE BRAGANÇA.
Em 1939/40, foi demolido o quarteirão de casas do velho arrabalde medieval/quinhentista situado entre a Rua do Angerino (onde nasceu Florbela Espanca) e a Rua da Praça Velha. Penso que a ideia do Ministro das Obras Públicas, Duarte Pacheco, seria ligar, com uma artéria de maior dimensão, o Castelo e o Palácio.
Na imagem, podemos ver, no lado esquerdo, a entrada da Rua da Pascoela e no lado esquerdo, a entrada do Paço dos Lucenas. Ao fundo, o Castelo medieval, a Fortaleza Artilheira e o Santuário de Nossa Senhora da Conceição.